quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Lei de Gérson e a 18ª regra


Já tinha visto esse vídeo alguma vez na vida?

Foi ele que deu origem a famosa Lei de Gérson, aquela que norteia o comportamento do brasileiro sob a ideia de querer levar vantagem em tudo.

É cultural (ou não, diria Cléber Machado), o brasileiro cresce com uma suposta obrigação de “se virar” pra conseguir as coisas, e daí nasce essa tendência pra tentar sempre ser o “esperto”.

Algum amigo seu já chegou se vangloriando: “manja aquele negócio x que custa yz? Descolei um esquema bom aí e paguei só z”.

Isso acontece em todos os setores de nossas vidas, sem exceção. Mas é no futebol, esse espaço sem lei onde “não precisamos ser civilizados”, que a Lei de Gérson tem seu ápice.

Ser capaz de ludibriar público, adversário e, principalmente, a arbitragem é “qualidade” por aqui. Por vezes ouvimos falar em jogadores que costumam “sofrer muitos pênaltis” ou então que “conseguem faltas perigosas” de modo altamente positivo. E é bom mesmo quando estes pênaltis e faltas são alcançados devido a habilidade do jogador que ataca. O problema está na simulação.

Simular uma falta, um pênalti, uma agressão ou qualquer coisa do tipo é errado. Fere os preceitos básicos do esporte.

Mas faz parte do jogo.

Podemos (e devemos) achar isso muito triste, mas faz.

Quando um jogador se joga pra tentar conseguir uma falta ele aceita um risco. O juiz pode perceber a simulação e ainda puni-lo com cartão amarelo. Ou então enganar o árbitro e alcançar seu objetivo. A partir do momento que levou um amarelo, não vai tentar de novo (naquele jogo). É um risco calculado, sem dúvidas.

É complicado condenar. Surge a oportunidade do cara levar vantagem para seu time e ele tenta. Outros não são adeptos disso. É muito particular.

Você, que está lendo isso, tenta levar vantagem? Lembrando que não existe “meio ético”. Se faz alguma coisa com o “jeitinho brasileiro”, já perdeu.

“Ah, mas você concorda que tá demais, toda jogada no futebol brasileiro hoje em dia tem simulação, ninguém aguenta”. Concordo. Fica feio mesmo de se ver esse espetáculo de um tentando enganar o outro.

Mas, colonizados que somos, ainda precisamos ser regrados pra andar na linha. E a impunidade é o que move a Lei de Gérson em nossa sociedade atualmente.

No futebol em especial é o contrário (ou não, depende do ponto de vista). Nossa arbitragem tem uma tendência covarde de segurar o jogo com faltas. O medo do “jogo sair da mão” é tão grande que toda jogada de contato é parada pelo homem do apito, que assim também tira lá sua vantagem.

Mas qual é a ferramenta do árbitro para usufruir da Lei de Gérson? A 18ª regra, claro.

Pra quem não sabe o futebol tem 17 regras básicas, cheias de alíneas, que determinam o que pode e o que não pode dentro de campo.

Usa-se a expressão 18ª regra nos momentos em que o juiz interpreta um lance conforme for mais interessante pra ele.

Exemplo claro disso são as “faltas de ataque” em escanteios e faltas laterais.

A bola é lançada na área e todo mundo se agarra compulsivamente. É muito menos comprometedor marcar falta pra defesa do que pênalti, certo? Então, tome 18ª regra neles.

E aí é que complica tudo. Se nem a autoridade máxima do jogo segue uma postura digna, como cobrar dos jogadores ética e fair-play?

Então, tá formada aí a receita da indecência legitimada. O jogador se joga pra conseguir faltas e o juiz marca as que ele achar conveniente.

Ainda sou da opinião de que a solução deve começar de cima. A maioria de nossos jogadores não desenvolvidos culturalmente ao nível de mudarem este cenário de modo espontâneo.

Eles são treinados pra chutar a bola e só. Nem leitura de jogo a maioria tem (assunto pra outro post). Não estudam adversários, regra, português ou matemática. São malandros e não inteligentes.

É válido (e extremamente necessário) que comecemos a trabalhar esses valores nas divisões de base para que, no futuro, suba ao time profissional um jogador formado físico e intelectualmente.

Mas por hora, pra esses cavalos que já estão aí correndo atrás da bola, o caminho é acertar a mão na arbitragem. Não tem jeito, cavalo só obedece espora.

Uma opção seria fazermos o teste de deixarmos os jogos correrem mais, mesmo correndo riscos, e não dando “faltinhas”. Punir com cartão toda e qualquer simulação e parar de dar mau exemplo com marcações de “perigo de gol”. Mas isso passa inevitavelmente pela capacitação constante dos árbitros.

A Lei de Gérson só vai deixar de reinar por aqui quando os jogadores forem tirados da zona de conforto que é a simulação, fazendo com que isso comece a trazer prejuízo pros caras.

Assim tenho certeza que vai melhorar um pouco o nível do jogo que eu assisto no conforto do meu sofá.

Sim, meu foco é a qualidade do jogo que vou assistir.

Sabe como é né?

Gosto de levar vantagem em tudo.