É importante você dar
sempre o devido valor à sua família, à sua companheira ou companheiro e aos seus
verdadeiros amigos, por exemplo.
É muito importante
que você cuide bem da sua saúde. Como diz minha vó, “se você cuidar bem, seu corpo
dura a vida toda”.
É importante também você
ter um trabalho que, mesmo se não for aquele dos seus sonhos adolescentes, te
engrandeça de alguma maneira, te dê uma condição de vida bacana e, na medida do
possível, te faça feliz.
Assim, você terá
quase tudo o que é preciso pra construir uma bela história de vida e evoluir como pessoa em todos os sentidos. Fica
faltando só uma outra coisinha imprescindível pra te afastar do risco de se tornar um
babaca engolido pelo sistema.
Você precisa
conhecer, entender e respeitar suas raízes. Precisa ter clara em mente toda a
história daqueles que proporcionaram que você estivesse aqui, hoje, nas atuais
condições.
São bandeiras que impactam
o País e mobilizam milhões porque são gigantes, construíram um século de
história para terem esta condição.
E como sabemos que uma
porcentagem ínfima de pessoas consegue ultrapassar um século de história,
podemos concluir que ABSOLUTAMENTE NINGUÉM que passa por um clube pode se
considerar maior que o mesmo.
Sendo assim, quem chega
tem obrigatoriamente que se adaptar a história da instituição. Nunca o
contrário.
Imagine alguém que vem ao Flamengo e decida que o time não tem que ligar tanto pra torcida; no
Grêmio e seja contra jogadas mais fortes; ou no Santos e implante um conceito
de prioritariamente se defender.
Não pode. É
desrespeitoso com aquilo que estes escreveram durante todas estas décadas.
Porém, nos
últimos tempos, a “modernização”, os “novos recursos” e as “influências
europeias” fizeram os nossos novos administradores, reis de palestras e
powerpoints, perderem um pouco do parâmetro dessas coisas.
Eu tava esperando
algo grande e bastante comentado acontecer pra falar disso.
Aí veio o Pato ontem
e me abriu esse “espaço”. Portanto, vamos falar especificamente do caso do
Corinthians.
Já não é de hoje que
o Corinthians vem “maltratando” algumas tradições em prol da tal modernização.
Tem-se notícia de
ingressos de jogos do “time do povo” na Libertadores que custaram um salário
mínimo.
Desde o retorno pra
1ª Divisão em 2009, o Corinthians inovou com trabalhos de marketing que
reforçaram o conceito de apoio incondicional da Fiel.
Foi um sucesso.
Ganhou títulos
importantes com Mano Menezes e criou grande expectativa pro ano do centenário, quando um
“acidente de percurso” (chamado Moacir) impediu o melhor líder daquela
Libertadores de realizar o sonho de conquistar a América num ano tão histórico.
A torcida sofreu, “entendeu”
e no embalo do “nunca vou te abandonar”, engoliu a seco o gol de Love.
Veio o Brasileiro. E
o time favorito ao título não pegou nem vice. Outro jogo vexatório, agora contra o
Goiás, colocou o Timão na condição de disputar a famosa Pré-Libertadores.
E novamente a moda do
“vivemos de Corinthians” impediu que a torcida cobrasse o elenco como em outros
tempos.
Aí veio a tal “Pré”,
contra um tal Deportivo Tolima, que nada mais é que um “ABC-RN que come abacate
e lê Gabriel García Marquez”.
Como você bem lembra, tivemos aqui um dos maiores
vexames brasileiros na história da competição.
E aí a galera não
aguentou.
Cerco aos jogadores,
pedras nos carros, BAMBU NO ÔNIBUS. Era o “povo” apertando o “time que é seu"
como nos velhos tempos.
A ação foi totalmente
contra o que o marketing corintiano tentava vender.
“Não gente, não pode.
O corintiano tem que apoiar, apoiar e apoiar. Não importa o que aconteça. Aqui
é Corinthians.”
Então amigo, não é bem
assim.
O corintiano é historicamente famoso
por apoiar o time contra qualquer tipo de desafio ou adversário. Lotariam um
estádio acreditando na vitória mesmo se seus reservas enfrentassem a Seleção da
Alemanha.
Com esse tipo de
apoio incondicional o jogador alvinegro sempre contou.
Agora, é o seguinte,
na mesma medida que vinha o apoio externo, sempre veio também a cobrança
interna. Por vezes a interna era até maior (né não Edilson?).
A engrenagem era
essa: o clube é do povo; o povo “ia” ao clube; deixava bem claro para o time a
importância do clube; e após assegurar-se de que tinham ali uma equipe
completamente comprometida com a entidade, iam junto com os caras até o
inferno.
Após o episódio das
bambuzadas no busão, a corja do Roberto Carlos foi embora, ficou quem realmente
tava fechado com os caras e o resultado veio com um título Brasileiro, a tão
sonhada Libertadores da América e um Mundial de Clubes.
Quando voltou a agir como
Corinthians, voltou a ganhar.
Numa conta simples de 2+2.
Acontece que, após
conquistar o planeta e passar a olhar o mundo de cima, todo mundo (eu disse TODO MUNDO) que faz parte deste processo esqueceu das funções básicas que
fazem essa máquina girar.
A direção se viu no
direito de transformar o Corinthians em “marca premium”.
"Harlem Sheik". É... |
Os jogadores (e
treinador também) se viram na condição de não mais aceitar cobranças.
E a torcida ainda se
divide graças aos muitos que não acham certo apertar “quem venceu tanto pelo
clube no passado”.
Foi a nova postura da
direção que fez com chegasse uma estrela internacional totalmente
descompromissada (talvez até por ignorância mesmo) com tudo o que o clube
envolve.
Foi a nova postura do
grupo que possibilitou que este jogador se sentisse à vontade para se colocar
na condição de intocável adquirida pelos campeões do mundo.
Foi a nova postura da
torcida que deu a este jogador a “confiança” para tratar a principal bola do
principal campeonato disputado pelo Corinthians no segundo semestre, coma displicência e irresponsabilidade de quem está
batendo um pênalti num Amigos do Ronaldo x Amigos do Zidane.
E assim tudo o que
fez do Corinthians um clube tradicional até hoje foi sendo deixado de lado num ano cheio de prejuízos.
Como podem ver, o
pênalti que Pato desperdiçou ontem à noite é só a ponta de tudo o que já vinha sendo desconstruído
a meses.
Apenas explicitou que
a coisa tá totalmente “acoxambrada” e que eles não estão lá muito preocupados
com isso, já que sabem que a Fiel “nunca vai lhes abandonar”.
Agora que a vaca de 2013 foi pro brejo, todos os
envolvidos têm direito a livre escolha.
Podem seguir buscando
a “Chelsealização” da instituição Corinthians e fazer do clube uma grande caixa
registradora que só faz girar dinheiro vindo de marketing, TV, contratações.
Ou podem voltar às
suas raízes, tudo aquilo que fez dele o que é, se reencontrar e buscar um 2014
melhorzinho, né?
Continuar com as
coisas do jeito que estão pode passar a impactar gravemente a identidade do clube.