segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Constatando o óbvio

Você está surpreso com a posição do Atlético-PR na classificação do Campeonato Brasileiro?

Não consegue entender como o Furacão venceu tantas equipes teoricamente superiores a ele?

Fica impressionado sempre que vê a velocidade do jogo imposta pelo rubro-negro em suas partidas?

Pois não devia. Se parar pra pensar em todo o ano de 2013, entenderia a nítida razão do sucesso paranaense.

Ao contrário dos outros 19 times da Série A, o Atlético foi o único que pôs em prática o jeito certo de se tratar Campeonato Estadual.

Não entendeu a relação entre Estadual e Brasileiro? Eu explico.

A diretoria do Furacão entrou em 2013 com um planejamento diferente do que estamos acostumados por aqui. Não usaria seu time principal no Campeonato Paranaense. A final sempre é Atlético e Coritiba mesmo, então que se colocasse o sub-23 pra enfrentar Cianortes, Londrinas e Maringás, enquanto o grupo principal ficaria focado apenas na preparação para Brasileirão e Copa do Brasil.

Resultado: o sub-23 do Atlético foi vice-campeão paranaense perdendo a final para o Coritiba enquanto a equipe principal realizou incríveis 80 dias de pré-temporada.

“Ah Dello, olha aí, os caras perderam pro maior rival, a torcida deve ter caído de pau, blá, blá, blá...”

Caiu de pau mesmo. Torcedor não entende esse tipo de coisa.

No primeiro semestre, o planejamento foi duramente questionado (inclusive pela imprensa “especializada” do Paraná). O time entrou em crise e tudo mais.

Chegou a Copa do Brasil. Brasil de Pelotas, América-RN e Paysandu ficaram pelo caminho. Até aí nada mais que a obrigação.

No Brasileirão, um começo errante de oito jogos com quatro empates e apenas uma vitória. Nitidamente o Furacão não estava se utilizando bem de seu maior trunfo pra 2013.

Na sexta rodada chegou Vágner Mancini para o lugar de Ricardo Drubscky. O treinador assistiu dos camarotes do Couto Pereira o clássico Atletiba, válido pela sétima rodada e que terminou com vitória Coxa Branca por 1x0. Assumiu no “jogo-enchente” contra o Corinthians. Empate por 1x1 num jogo que nem pôde ser avaliado decentemente devido às péssimas condições do gramado.

Ainda assim o jogo marcou uma mudança de percepção do novo treinador.

Após pressionar atual campeão do mundo até o fim do jogo num gramado pesadíssimo, Vágner chegou a uma conclusão: O Atlético tinha “mais pernas” do que seus adversários. E precisa se aproveitar disso.

Desde então o estilo de jogo do Atlético mudou. Passou a apostar na velocidade. Sabendo-se que os outros times “cansariam” antes, o Furacão força o jogo de correria pelas pontas desde o início e colhe os frutos do cansaço alheio nos segundos tempos dos jogos.

Assim bateu na Portuguesa, no Goiás, no Bahia, no Náutico, no Criciúma, no Santos e na sensação Botafogo, do holandês Seedorf.

Assim foi o primeiro time a bater o campeão da América, Atlético-MG, dentro do temido Estádio Independência, no bairro do Horto.

Assim pôde atropelar o ascendente Palmeiras no jogo de volta das oitavas de final da Copa do Brasil com três gols no segundo tempo.

Desde aquele Atletiba que Mancini assistiu, o Atlético não sabe mais o que é uma derrota no Brasileirão.

Acabou o primeiro turno e os caras tão lá, firmes e fortes no G4. Com quatro pontos de vantagem pra quem tá fora.

O time principal do Atlético, em 2013, fez até o momento 26 partidas oficiais. O Corinthians, por exemplo, já passou de 50 (52 pra ser mais exato).

Percebeu? O Furacão não tem mais como alcançar neste ano inteiro (nem chegando na final da Copa do Brasil) o número de jogos que o Corinthians fez até a primeira semana de setembro.

O desgaste físico que os jogadores de todos os clubes brasileiros tinham neste fim de semana, um jogador do Atlético só terá na última rodada, em dezembro.

Se isso não é vantagem, eu não sei o que é.

Claro que; tendo em vista a disparidade técnica que separa o Atlético de Inter, Grêmio, Botafogo, Corinthians e etc; existe a chance do Furacão não conseguir terminar o campeonato no G4.

Mas imagine se algum destes grandes elencos citados acima estivesse com a mesma condição física dos comandados de Mancini. Provavelmente teríamos um campeão com seis rodadas de antecedência.

E o que é preciso pra isso? Claro, parar de desperdiçar energia com bobagem e colocar os estaduais em seus devidos lugares.

Enquanto os grandes clubes brasileiros não tratarem os estaduais como torneios amistosos de preparação, colocando titulares NO MÁXIMO nos clássicos e suplentes no resto, nossos principais jogadores chegarão sempre cansados no Brasileirão.

Foi só essa percepção que deu ao Atlético a chance REAL de conquistar uma vaga pra Libertadores-14, tanto pelo Brasileirão quanto pela Copa do Brasil.

E foi a falta dela que fará o Coritiba fechar o ano apenas com um Estadual pra recordar.