Foram mais de 50 anos de
existência e de chacotas sem títulos (se você acha que o palmeirense sofre
sendo piada há mais de uma década, imagine ser piada por cinco), até formar o
melhor time de sua história na década de 80. O goleiro do esquadrão era Julio
Cesar Falcioni (até outro dia treinador do Boca Juniors) e os caras venceram os
Campeonatos Colombianos de 1982, 83, 84, 85 e 86. Já eram portanto no mínimo do
mesmo tamanho do Atlético.
Para se tornarem maiores que os
rivais, faltava apenas uma glória internacional (coisa que o Atlético não
tinha). Era o momento de aproveitar aquele grande time e conquistar uma
Libertadores.
E é aqui que começa a nossa
história sobre “A Maldição do Melhor Líder”, que já acompanha a competição
continental há 15 anos.
Ficaram em terceiro na edição de 88 e ainda tiveram de assistir pasmos o Atlético vencer a Libertadores de 89 nos pênaltis após reverter um 2x0 contra no confronto contra o Olimpia, dando assim o primeiro título da Colômbia na competição.
Era o fim para “Os Escarlates”.
Voltaram a ser a piada do clássico depois de tantas pancadas cruéis do destino.
Cruéis a ponto de causarem pena
até mesmo nos Deuses do Futebol.
Em 1995, o Atlético Nacional
caminhava a passos largos para o bicampeonato. Atropelaram as Universidad do
Chile e Católica, o Peñarol, o Millonários (rival da capital Bogotá), o River
Plate, e foi pra final contra um questionável tecnicamente Grêmio de Jardel e
Paulo Nunes. Foi o momento que a bola esperou para começar a cobrar aquela
dívida. Grêmio campeão, frustração em Medellín.
Punido um lado, faltava “ressarcir”
a outra parte da questão.
E já no ano seguinte o América;
com um time medíocre, liderado por Óscar Córdoba, famoso ex-goleiro do Boca
Juniors do fim da década de 90 e começo dos anos 2000; foi avançando graças a
uma chave bastante sortuda. Equipes como San José (BOL), Guabirá (BOL),
Minervén (VEN) e Junior Barranquilla (COL) ficaram pelo caminho até as
semifinais, quando teria de enfrentar o mesmo Grêmio que derrotou o Atlético um
ano antes. Hora de pagar a primeira parcela da dívida moral do futebol para com
o América. 1x0 Grêmio em Porto Alegre, 3x1 América em Cali.
Pronto, o América estava de volta
a uma final da Liberta e a bola tinha enfim a chance de quitar o débito
histórico com os caras. Tudo perfeito, não fosse um pequeno (grande) problema.
Em 1996 o River Plate entrou na
Libertadores com um dos maiores times de toda a sua história. Burgos, Ayala,
Rivarola, Sorín, Ortega, Gallardo, Francescoli e Hernán Crespo formavam a base
daquela “quase seleção argentina”. A equipe foi a única invicta e o melhor
líder da fase de grupos daquela Libertadores. E mesmo com todo o esforço dos
Deuses da Bola, que conseguiram dar uma vitória por 1x0 para o América no jogo
ida em Cali, na volta a equipe foi “amassada” no Monumental de Nuñes e perdeu o
título.
O futebol então percebeu algo que o
incomodou profundamente. Nem todas curvas espíritas que uma bola pode receber
são capazes de bater um time tão superior a outro. Portanto, sua vontade
poderia já não ser tão soberana no esporte.
Tendo em vista que essa condição
de “subgerente” era inadmissível, a bola mudou o foco. Todas as forças
sobrenaturais do futebol agiriam a partir daquele momento para que nunca mais
uma equipe muito superior às outras vencesse a Libertadores. E como identificá-la
em cada edição? Pela posição de melhor líder, claro.
O primeiro a sofrer com a “nova
regra” foi o Colo-Colo de 97 de Sierra, Neira e Bassay. Eliminado nos pênaltis
pelo “grande” Cruzeiro de Elivélton.
Em 98 o próprio River Plate recebeu o troco levando o “gol monumental” de Juninho Pernambucano. Em 99 o Corinthians de Rincon, Vampeta, Ricardinho, Marcelinho Carioca e Edilson incrivelmente foi pros pênaltis e perdeu para um Palmeiras nitidamente inferior (no ano seguinte a derrota se repetiria para um Palmeiras ainda mais fraco, só que dessa vez sem a participação da maldição).
No ano 2000, uma ironia do destino colocou o America de Cali como melhor líder. A bola não quis nem conversa e os caras caíram já nas oitavas contra outro América, o do México.
Em 98 o próprio River Plate recebeu o troco levando o “gol monumental” de Juninho Pernambucano. Em 99 o Corinthians de Rincon, Vampeta, Ricardinho, Marcelinho Carioca e Edilson incrivelmente foi pros pênaltis e perdeu para um Palmeiras nitidamente inferior (no ano seguinte a derrota se repetiria para um Palmeiras ainda mais fraco, só que dessa vez sem a participação da maldição).
No ano 2000, uma ironia do destino colocou o America de Cali como melhor líder. A bola não quis nem conversa e os caras caíram já nas oitavas contra outro América, o do México.
Viramos o milênio e a maldição
continuou pegando geral. Em 2001 o Vasco de Helton, Pedrinho, Juninho Paulista
e Euller apanhou feio do Boca de Riquelme, Schellotto e Delgado. Em 2002 o
América-MEX foi eliminado por um recém-nascido São Caetano na única fase
daquele mata-mata em que a equipe paulista não foi pros pênaltis. Em 2003 o melhor
líder foi novamente o Corinthians. Acho que não preciso lembrar o “pega, pega”
de Geninho para o lateral Roger no jogo contra o River, preciso?
Em 2004 foi a vez do Santos se
sagrar melhor líder e encarar nas quartas de final uma das maiores aberrações a
vencer uma Libertadores em toda a história da competição, a equipe colombiana do Once Caldas (COL), que ainda passaria por São Paulo e Boca após eliminar o Peixe. Já
em 2005 mais uma vez tivemos o River Plate no topo. Encontro com o São Paulo
nas semis, e “Zidanilo” na cabeça. Em 2006 foi a vez do Vélez Sarfield (ARG) arrasar na fase de grupos
e ser eliminado de forma inexplicável, em casa, com a derrota para o mexicano Chivas Guadalajara.
Chegamos em 2007 e o Santos volta
a ser melhor líder. Sua recompensa, a eliminação contra o Grêmio graças a um
gol espírita de Diego Souza em plena Vila Belmiro. Em 2008, as "forças ocultas"
quase levaram uma bola nas costas do Fluminense, que milagrosamente tirou o São
Paulo no último minuto, enfrentou o Boca sem ter de ir na Bombonera (já que a
mesma havia sido interditada) e quase reverteu a goleada que levou da LDU em
Quito.
Nos pênaltis porém, LDU campeã e tudo dentro dos conformes. Em 2009, o Grêmio foi “a máquina” da primeira fase que caiu nas semis para o Cruzeiro de Elicarlos, Thiago Heleno e Wellington Paulista.
Nos pênaltis porém, LDU campeã e tudo dentro dos conformes. Em 2009, o Grêmio foi “a máquina” da primeira fase que caiu nas semis para o Cruzeiro de Elicarlos, Thiago Heleno e Wellington Paulista.
Em 2010 o Corinthians foi melhor
líder em pleno centenário. E o que seria motivo de festa virou tragédia nas oitavas
contra o Flamengo de Vagner Love, responsável pelo gol improvável no Pacaembu.
Em 2011 chamaram o Cruzeiro de “Barcelona Brasileiro” tão impressionante foi
sua campanha na fase de grupos com VINTE gols marcados e só UM sofrido. Nas
oitavas contra o Once Caldas era considerado barbada (ainda mais depois de
vencer a ida em Manizalles por 2x1). Em Minas Gerais no entanto, o momento em
que esteve mais perto de “bater” o Once foi quando Cuca agrediu Rentería. No
ano passado, o melhor líder foi o Fluminense e, nas quartas contra o Boca, viu
a vaga ir embora em pleno Rio de Janeiro aos 46’ do segundo tempo, com o gol de
Santiago Silva.
Já acabou a fase de grupos da
edição 2013 da Libertadores e, como você bem sabe, o melhor líder foi o
Atlético-MG com uma rodada de antecedência.
Contudo, na última rodada contra
o São Paulo, vimos o que pode ser a primeira ação dos Deuses da Bola para
manterem sua tradição intacta.
Não sei se todos vocês que estão
lendo acreditam no poder do imponderável no futebol. Mas é difícil explicar de
outras formas tantas derrotas consecutivas das melhores equipes, não acham?
Em alguns casos, um grupo fraco
contribuiu na produção de um “melhor líder”. Mas em muitos outros, como com o
Cruzeiro/11 (que caiu no grupo do Estudiantes, campeão da edição 2009), realmente
tínhamos uma equipe superior às outras.
Enfim, teremos a chance de ver se
a maldição segue ou não com o Atlético esse ano.
No mais, fica a dica para os
torcedores nas próximas edições da Libertadores.
Mas todo cuidado com as campanhas
“boas demais”.
Elas podem evocar forças ocultas
contra as quais você não vai querer lutar.