sexta-feira, 1 de março de 2013

Um herói pra chamar de seu

Sempre se ouve falar de como o brasileiro vê o futebol de modo diferente do europeu. Que eles são mais civilizados, mais organizados, mais limpinhos, blá, blá, blá...

E aí vem as razões que criam pra explicar essa diferença. Todas sem sentido

“Eles tem o melhor futebol do mundo”. Nem vou discutir se é uma verdade absoluta ou não. Mas temos de concordar que é absolutamente contraditório. Na teoria, quanto melhor o time que se tem, mais “enlouquecidamente” se torce.

“Eles são mais ricos”. E daí? O que que uma coisa tem a ver com a outra? Alguém ganha dinheiro pra torcer no Brasil?

“Eles têm acesso à uma educação de qualidade”. Sim, têm mesmo. O que é muito bom inclusive. E isso não os impede de realizarem ofensas racistas ou até mesmo de esbravejarem contra uma simples troca de camisas, certo?

O fato é: eles vão ao teatro ver um espetáculo, nós vamos a uma romaria em busca de um herói a ser canonizado.

Sim amigos, a verdade é uma só, a relevância do futebol aqui é uma e lá é outra. Simples assim. E não estou dizendo que os caras lá não amam futebol. Cada um ama do seu jeito. Lá, rola um amor mais idoso, uma coisa mais amadurecida e tal.

Aqui é tesão adolescente, deslumbrado, inseguro e por vezes perigoso. Na falta de outras coisas que preencham o espaço na vida de muitos brasileiros, o futebol fica encarregado de resolver a “carência” e acaba deixando essa sensação de “não vivo sem você”.

E aí é que aparece um grande problema.

Aqui se cobra dos grandes ídolos um grande futebol, um grande caráter, uma personalidade de comunicador, atitudes filantrópicas, exemplos para a juventude e total aversão aos “prazeres mundanos”.

Na Europa eles tem personalidades da saúde que são referência de caráter, gente na TV que é referência de talento na comunicação, líderes que são lendas nos serviços voluntários junto à sociedade, governantes que são exemplos para as gerações futuras.

Assim, em campo eles só querem um jogador de futebol mesmo. Já basta.

Aqui é uma “verdadeira desilusão” saber que o Emerson Sheik comprou um carro roubado, que o Adriano é amigo dos caras lá do tráfico ou que o Neymar baforou lança-perfume na balada.

Queremos mais que um jogador. Queremos alguém digno de estátua.

Alguém que cubra a lacuna de heróis também dos outros esportes.

Ayrton Senna se foi, não veio ninguém. Hortência parou, não veio ninguém. Guga se arrebentou, não veio ninguém. Sobrou tudo na do futebol.

Tá errado.

Aí depois que se “desilude”, o cara vem chorar na internet. “Poxa, pensei que ele era um cara diferente, praticante dos bons costumes”.

Às vezes fico em dúvida se o torcedor brasileiro quer um cara que faça gols ou um noivo.

Fica o aviso, enquanto esperarem de jogador de futebol um Nobel da Paz, vão se frustrar sempre.

Eles são tão errantes ou mais do que vocês.

O “pulo do gato” é ir pro futebol esperando apenas futebol. Nada mais.

Durante o jogo, seja brasileiro. Vibre, grite, coloque toda sua paixão no campo durante os 90 minutos.

Fora deles, seja europeu. Ganhou, aplausos. Perdeu, boa noite.

Se perceber que precisam mesmo de um “herói” em suas vidas, busquem outros. Família, amigos, esposa, marido, cachorro...

Mas não me fique a semana interia chorando uma cagada de um chutador de bola que nem sabe seu nome.

Garanto que 99% deles não podem ser o “seu herói”.

Acentuar esta palavra já é um desafio pra boa parte.