Nestes últimos dois anos, a Copa do Brasil “assumiu” uma função curiosa. Trazer de volta ao topo do cenário nacional gigantes adormecidos.
A final desta quarta-feira encerrou oficialmente, com 11 dias de atraso, o primeiro semestre do futebol nacional.
Ontem, no duelo entre Coritiba x Palmeiras, já era esperada uma pressão sufocante dos paranaenses sobre o time paulista. A grande dúvida estava em até que ponto o Palmeiras estaria maduro e preparado para suportá-la.
O torcedor palmeirense vinha ferido por decepções brutais nos últimos tempos. E o receio de um novo vexame era inegável.
Mas ontem, com um dos piores elencos campeões de sua história, o Palmeiras enfim foi Palmeiras. E não pelo futebol jogado, longe disso aliás, mas pelo fato de ter se comportado como gigante perante a um pequeno.
Porque jogo de futebol é um negócio que vai além da bola jogada.
Por isso vou falar hoje de como essa camisa verde decidiu a partida.
Primeiro preciso explicar pra vocês como isso de grande e pequeno funciona. O time que é gigante, mesmo com jogadores inferiores aos de seu adversário de camisa mediana, não se deixa derrubar. Ele encontra forças e passa por cima, aos trancos e barrancos que seja, mas passa.
Pelo menos é assim que tem que ser. E se não está acontecendo com o seu time, provavelmente ele está se apequenando.
No primeiro tempo do jogo de ontem, esse bom time do Coritiba usou de todos os seus recursos técnicos para se aproximar do gol palmeirense. Felipão montou um sistema defensivo digno de parabéns e não permitiu que a bola entrasse em sua área pelo chão nenhuma vez sequer. Com o tempo, o Coritiba foi percebendo que seu super-ataque não era tão super assim. E foi batendo o desespero. O primeiro tempo acabou com o 0x0 e com a sensação de que a vaca de coxa branca tomava o rumo do brejo.
Ah, lembrei de um ponto importante. Tanto no primeiro tempo quanto no segundo (e principalmente na primeira partida da final) a arbitragem foi alvo de duras críticas por parte dos paranaenses. Realmente o juiz inverteu algumas faltas pró-Palmeiras. Mas gente, isso faz parte de ser Palmeiras, Flamengo, Internacional, Corinthians, Vasco, Santos, São Paulo, etc, etc, etc. A camisa pesa e na dúvida o cara apita pro gigante, a gente sabe disso.
Quando você é um time mediano e vai pegar um gigante, entra sabendo que terá de se superar triplamente pra vencer. Sempre foi assim. Sem falsos moralismos, desculpa aí galera de Curitiba, mas o Palmeiras não tem culpa de ser grande e vocês pequenos.
O Palmeiras, assim como os outros gigantes, remaram muito na história pra ser o que são. Parem de chorar, voltem pro fim da fila e tentem de novo em 2013.
Esclarecida a parte da arbitragem, voltemos ao jogo. No segundo tempo o Coritba voltou com Ayrton no lugar de Jonas. Depois que acabou o jogo, fiquei sem entender porque o cara já não começou como titular, mas enfim. Foram passando os minutos e nada do Coxa entrar na área palmeirense. A camisa verde ia crescendo sobre os donos da casa e o desânimo começava a bater. Eis que na bola parada, Ayrton cobra uma falat com perfeição, marca e põe o Green Hell do Couto Pereira pra explodir. Por quatro minutos.
Pouco depois, num lance polêmico no bico da área do Coritiba (onde particularmente não vi falta), Marcos Assunção tinha a oportunidade de resolver o jogo. E em mais uma bola venenosa, um leve desvio, e o gol do título.
Questione a estética do jogo palmeirense, o quão empolgante e ver os jogos dos times de Felipão e até mesmo o nível técnico da competição.
Mas não dá pra questionar a segunda melhor campanha da história da Copa do Brasil e seus méritos.
O Palmeiras era um gigante adormecido. Seu torcedor se acostumou a ter seu orgulho abalado por rivais. E um título nacional era urgente.
Agora está novamente de pé, entre os gigantes, num lugar que é seu de direito.
A sensação é de rever um parente que passou um longo período viajando por aí e agora está de volta, tão importante pra família quanto sempre foi.
Seja bem vindo de volta Palmeiras. Já estávamos com saudades. Que dessa vez seja pra ficar.
E que este título seja lembrado nas próximas décadas como o primeiro passo palmeirense para a redenção.
Hoje é dia de Sociedade Esportiva Palmeiras, o Brasil é todo verde e deve se orgulhar disso.
Porque depois de um longo inverno, minha terra tem Palmeiras onde se canta o alviverde imponente.