segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sobre "Ronaldinhos" e "Gansos": o jogador e o dinheiro

Atenção, muita atenção para o que vou dizer a partir de agora. O que tenho para contar pode desconstruir tudo aquilo o que você acredita (ou finge acreditar) sobre seu clube de coração. Principalmente sobre esses caras aí de chuteiras, por quem você pega filas, toma chuva, fica sem dinheiro, sofre, grita e o pior, aguenta todo o tipo de chacota durante a semana. É com pesar que vos digo, que eles não estão nem aí pra você meu querido.

Provavelmente você já saiba e se faz de bobo pra manter o encanto do futebol (o que eu entendo), mas tenho de falar. O que liga esses caras à camisa que você ama é o mesmo que lhe prende nesse emprego que você odeia. Grana, nada mais.

Com a aposentadoria de "São Marcos", apenas Rogério Ceni sobrou como exceção a esta regra. Mas como ele ainda não voltou a jogar, posso falar de todos os que muitas vezes fingem correr nos gramados brasileiros.

Primeiro permitam-me separar o joio do trigo. O fato do cara estar focado em ganhar dinheiro não faz dele um herdeiro da profissional do entretenimento adulto. Muitos jogadores de futebol conseguem ganhar seu valioso dinheirinho honrando e respeitando a instituição que representam em campo.

E não tô falando de beijinho em camisa ou sinal de organizada nas comemorações de gol, mas sim de vergonha na cara, comprometimento e dignidade.

O cara que é homem pra honrar o que diz e o que assina, trabalhando em prol do clube e buscando dar sempre o seu melhor em campo tem total direito de ver números cada vez maiores em seu holerite.

No entanto a evolução financeira do futebol mundial infelizmente deu origem a dois grupos que crescem vertiginosamente, principalmente no Brasil graças a nossa "nova economia". Para ilustrar melhor e facilitar a compreensão, por aqui vamos chamar estes grupos de "Ronaldinhos" e "Gansos" ok?

Mas por você está diferenciando "tipos" de mercenário? Mercenário é mercenário e pronto.

Até é, mas acredite, mesmo os mercenários tem fases e procederes. E você que gosta de futebol precisa estar "vacinado" pra esse tipo de gente.

Como nasce o mercenário do futebol você sabe né? 90% dos jogadores de futebol no Brasil interromperam os estudos pra seguir jogando bola. O que não faz a menor diferença para o caráter do cara, convenhamos. Mas impede que o mesmo tenha a base intelectual mínima necessária pra se tornar pessoa pública sem expor indevidamente o clube que representa e a si próprio. Apenas com o conhecimento “que a vida lhe deu”, as atitudes são invariavelmente espontâneas.

E é aí que nossos vilões aparecem. Sem "media trainning", na base do free style puro, o cara mostra quem realmente ele é, não tem jeito. Quem recebeu a criação apropriada da família, e em consequência disso tem a chamada “cabeça boa”, vira “trigo”, é respeitado e geralmente consolida uma carreira de bom nível.

Já os de índole duvidosa, "brasileirinhos" criados sob a Lei de Gérson, ficam marcados pelo ódio que alimentaram por aí. Quando jovens, até a casa dos 25 anos, estes personagens entram no grupo dos "Gansos".

Mas como age um Ganso? Pergunta o leitor.

Bom, um Ganso antes de tudo é uma criança grande. Ele se vê como uma dádiva, um pedacinho de Deus na Terra. Dá tudo o que pode em suas primeiras temporadas num grande clube brasileiro até conseguir se destacar no cenário nacional. A partir daí ele se vê perdendo tempo. É urgente, no seu ponto de vista, a ida pra Europa. E aí meu brother, um abraço. Não importa quantas campanhas de #FicaFulano sua torcida fizer ou quantos aumentos sua diretoria oferecer, ele não quer esse dinheiro, ele quer ir embora e está disposto a tudo pra isso, forçando sua saída de todos os modos possíveis. Inclusive parando de jogar, no sentido figurado ou literal.

O grande erro do jogador Ganso é a afobação. Ele entra em desespero pra sair do Brasil e mete os pés pelas mãos. Fosse mais inteligente trabalharia sua vontade junto à diretoria para uma proposta futura, de modo claro e honesto, e daria o seu "sprint final" de desempenho, pra deixar aquela boa impressão, aquele gostinho de quero mais na torcida. O objetivo seria alcançado, a fortuna reunida e a imagem preservada. Esse cuidado facilitaria as coisas inclusive pra esse jogador entrar no grupo dos "Ronaldinhos" no futuro.

E como age um Ronaldinho? Perguntaria novamente o querido leitor.

Antes de qualquer outra coisa, é preciso identificar o Ronaldinho, que por sua vez é aquele cara de 28 anos ou mais que já não consegue render o necessário para atuar na Europa.

Lembra daquele dinheiro que os Gansos não querem de jeito nenhum? É exatamente essa grana que os Ronaldinhos procuram. Espertos e mais experientes, sabem que não tem muito mais a dar para o futebol e que o futebol brasileiro ainda pode dar muito a eles.

Gozam do prestígio daquele ano em que foram eleitos “o melhor do Brasileirão” e daquele gol que classificou em alguma fase da Champions o time europeu onde jogou.

Aí eles vem pro Brasil a fim de ganhar seus últimos milhões pré-aposentadoria e enganar, enganar bem aqueles que apostaram nele. Se machuca bastante, some em campo nas principais decisões e marca vários golaços no Campeonato Estadual. O grande erro do jogador Ronaldinho, por sua vez, é a ganância. Ele não se contenta em enganar uma torcida e, após ser descoberto, mudar sua atitude (ou encerrar a carreira de uma vez).

Ele precisa espremer a laranja até o final, em detrimento ao resquício de reputação que construiu.

Mas tanto os "Gansos" quanto os "Ronaldinhos" contam com dois fatores sem os quais não sobreviveriam.

São eles o individualismo dos clubes e falta de memória dos torcedores. Um Ronaldinho só é Ronaldinho porque sabe que mesmo com muitos clubes reprovando sua postura, sempre haverá um que vê nele uma "oportunidade" de se destacar dos demais. Realmente se destacam, tempos depois, como o novo time que o Ronaldinho fez de otário.

E um Ganso só é Ganso porque sabe que os anos na Europa serão suficientes pra apagar os conflitos dos tempos de divórcio.

E que sua primeira grande torcida irá preparar no futuro campanhas pra repatriá-lo. Caixas de som no estádio, retorno de helicóptero, entre outros "mimos".

Assim, só o que foi bom na relação será lembrado. Pelo menos até a próxima punhalada pelas costas.

Como disse no início deste texto, querer ganhar dinheiro é absolutamente normal.

Você mesmo só fica na frente desse computador de segunda a sexta porque precisa de grana.

O modo como cada um decide ganhá-lo e que separa os com e sem caráter.

Seu clube de coração é uma instituição sagrada, que merece todo o respeito do mundo, principalmente daqueles que tiram dele o seu sustento.

Por isso fique atento e tente perceber se esse cara que você tanto endeusa, usa essa camisa para crescer junto à ela ou apenas se pendura na dita cuja para alcançar algo maior.

Enquanto nossos clubes servirem de escada pra garotos deslumbrados, e de Spa Resort para "velhos" aproveitadores, ficaremos aqui, invejando coisas da Europa e aguardando suas migalhas desembarcarem em Congonhas ou no Galeão.

E nessa hora nós, torcedores, sempre sujeitos a jogadores descompromissados e irresponsáveis que mancham a história de nossas camisas, passamos a perder, pouco a pouco, o orgulho em ver aquele escudo em campo.

Vendo assim nosso único amor totalmente puro e desprovido de interesse ser abalado por gente da pior espécie.

E isso amigo, não há dinheiro que pague.