quinta-feira, 21 de junho de 2012

O caminho pela América é pequeno para dois alvinegros

Sabe aquele episódio do desenho em que dois dos personagens mais fodões atiram seu ataque mais forte, um contra o outro, acontece aquela grande explosão, a tela da sua TV fica toda branca e você fica na gigante expectativa de saber qual dos dois resistirá em pé?

Pois é. Este é um bom modo de se ver a semifinal da Libertadores entre Corinthians x Santos.

No dia 24 de maio, quinta-feira, às 22h40, quando terminou a disputa de pênaltis entre Santos e Vélez Sarsfield na Vila Belmiro, definindo assim o clássico paulista como uma das semis, tudo o que tange o futebol brasileiro ficou meio que “suspenso”.

A atenção dos torcedores de todo o Brasil se congelou por intermináveis 20 dias a espera do início dos confrontos.

Todos ficaram como quem espera o episódio decisivo do desenho, da novela ou do seriado que mais gosta, sabe?

Sempre que se puxava algum assunto sobre futebol, fosse a Euro, a Copa do Brasil, o Campeonato Vietnamita, tinha alguém por perto que comentava “E o jogo hein?”.

E sempre havia outro alguém pra responder “É, vai ser foda”.

Estes inclusive não necessariamente torcedores de Corinthians ou Santos. Eu mesmo conversei sobre como seriam esses jogos com torcedores de pelo menos seis clubes diferentes dos envolvidos.

E o dia 13 chegou. E sua tela ficou toda branca. Pelo menos até ontem.

No primeiro jogo, na Vila Belmiro, o favoritismo foi passado aos donos da casa, o que é normal inclusive.

No entanto o jogo começou e mostrou toda a força de um valoroso adversário que adotou uma postura, trabalhou sério em cima dela, e a executou com precisão.

Dizer que o Corinthians só se defendeu o tempo o todo e que o Santos o “amassou com a posse de bola” é analisar com uma visão bem curto alcance.

A proposta de jogo dos corinthianos era clara é eficaz. Impedir as infiltrações de Neymar, encaixotando-o no espaço entre a zaga e os volantes (contando inclusive com Jorge Henrique na marcação do atacante santista); dar espaço para troca de passes apenas entre Adriano e os zagueiros do Santos; e otimizar os ataques pelo lado esquerdo (direito da defesa santista) onde encontraria Henrique, jogador que não é da posição e encontraria grandes dificuldades para marcar Emerson Sheik.

O Santos por sua vez demorou a perceber o que seu adversário tinha preparado. E quando percebeu, teoricamente era tarde, já que uma estratégia diferente, definida no período pré-jogo, teria sido necessária. A única ideia “diferente” de Muricy Ramalho se constituiu um retumbante fracasso. Tirar Neymar da “obviedade” da ponta-esquerda e tentar “surpreender” os corintianos com o rapaz à frente da meia-lua só serviu para enlouquecer de ódio os torcedores santistas.

A estratégia de Tite, no entanto funcionou perfeitamente. Alan Kardec foi anulado entre os zagueiros, Neymar facilitou a vida de Ralf e Paulinho indo até eles em todas as jogadas, e a bola chegou ao Sheik, que encontrou todo o espaço do mundo na direita defensiva do Santos, e mandou um golaço no ângulo oposto de Rafael.

Nem a entrada de Borges, nem o desligamento de parte dos refletores da Vila auxiliaram os santistas na busca pelo empate.

Fim de jogo. 1x0 Corinthians.

Mas os episódios mais bacanas e decisivos de desenhos e séries você sabe, tem parte um e parte dois.

Nesta semifinal, portanto não poderia ser diferente. A parte um da luta terminou deixando a impressão de uma boa vantagem para o Corinthians. Mas também a certeza de que ainda era muito cedo para considerar o Santos morto.

Mais sete dias de ansiedade separavam os espectadores da definição do confronto.

E o dia 20 também chegou. E como toda boa ficção, tinha de apresentar uma reviravolta.

No primeiro tempo, até pela necessidade extrema, o Santos tomou conta da partida. Controlou a bola passando pelos dez jogadores de linha e mantendo o Corinthians sempre com o time todo atrás da intermediária. Aos 35, aconteceu o que um dos comentários que mais ouvi durante a semana já previa.

“Se o Santos já sair na frente no primeiro tempo o jogo vai pegar fogo”.

Pegou.

Primeiro na trave após o toque de Borges, e depois na canela de Neymar antes de ir pro fundo da rede.

O efeito foi imediato nos corinthianos que botaram uma bola na trave e exigiram uma boa defesa de Rafael ainda antes de descer ao vestiário.

Intervalo de jogo. Neste momento sua tela está no auge da explosão branca que te deixa sem saber o que está por vir. Foram quinze minutos (um pouco mais se considerar o atraso do Santos na volta ao campo) de cabeças fervendo, mãos trêmulas e corações apertados por todo o Brasil.

O segundo tempo veio e com ele um golpe que ameaçava ser (e de fato foi) definitivo. Aos 2 minutos bola na área, Danilo se livra de Durval, domina livre e só tira do alcance de Rafael.

Faltava ainda o segundo tempo inteiro e ambas as equipes precisavam de um golpe para encerrar o embate. O Corinthians entretanto sobreviveria apenas evitando um golpe de seu rival.

Neste momento, a marcação de sucesso realizada pelo Corinthians na Vila Belmiro entrou em cena. O Santos, tentando demonstrar tranquilidade, tocou a bola sem destino de modo angustiante até o final.

Ficou claro o quanto o Corinthians trabalhou durante todos estes 27 dias numa disposição tática que anulasse os pontos fortes santistas.

E também o quanto o Santos confiou no talento pra resolver a parada.

A tela já não está mais toda branca, o brilho dos golpes já se dissiparam, a poeira baixou e já é possível ver quem resistiu de pé a esta batalha.

O Corinthians está na final da Taça Libertadores da América de 2012, e hoje, por volta das 21h30, mais ou menos, saberá quem será seu adversário no último episódio.

Também em duas partes, claro.

Impossível não perceber os traços de heroísmo que esta caminhada vai tomando aos poucos.

No caso da classificação do Boca então, o confronto entre o que “nunca ganhou” e o que “sempre ganhou” será ainda mais emblemático para encerrar esta história.

As duas próximas quartas-feiras nos darão as respostas.

Além de mais uma bela história futebolística para contarmos aos nossos netos.