quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Ingênuos

No último dia 09 de setembro, Paulo Autuori foi demitido do São Paulo Futebol Clube. Para seu lugar, foi chamado Muricy Ramalho, treinador que alcançou grande sucesso no clube na segunda metade da década passada. E muitos falaram que o São Paulo dava um último tiro de desespero em prol de sua salvação.

Não é verdade.

Muricy começou vencendo três partidas seguidas, sendo uma delas contra o badalado (e de fato muito bom) Atlético-MG, atual campeão da Libertadores da América. E muitos passaram a dizer que Muricy era de fato a solução dos problemas tricolores.

Não é verdade.

Agora, após a acachapante derrota de ontem para o Santos, o São Paulo de Muricy acumula agora três derrotas seguidas no Brasileirão. E já há quem diga que o treinador não terá condições de salvar o São Paulo.

Também não é verdade. E podemos derrubar estas três ingênuas afirmações facilmente.

Em primeiro lugar a contratação de Muricy Ramalho não foi um “tiro desesperado” da diretoria, mas sim uma ação calculada. A campanha de Autuori fracassava, e muito disso se devia a um elenco incapaz e às decisões esdrúxulas que a diretoria tomou durante o ano. O torcedor são-paulino chegou “brigar” pra tirar Juvenal do poder. Mas, assim como os manifestantes que foram às ruas em junho, foi cansando, cansando, cansando, até desistir temporariamente disso.

Passou-se a pedir então a volta de Muricy. “É Muricy! É Muricy! É Muricy!”, bradavam as arquibancadas.

“Ótimo, é o que vocês querem?”, pensou Juvenal Juvêncio, feliz por receber dos tricolores uma chance tão clara de se eximir de culpa numa futura tragédia. “Vocês querem o Muricy? Taí. Mas se o time “dele” cair, vocês não vão poder brigar comigo. Trouxe o cara que vocês pediram”, pensou sozinho JJ. É o mesmo conceito que “impede” a CBF de fazer apostas em nomes realmente novos, optando sempre por mandar pras Copas caras do perfil “se o Brasil perder, é culpa dele”.

Portanto tire da cabeça esse negócio de que Juvenal chamou Muricy porque estava desesperado. Chamou pra garantir a possibilidade de bascular a culpa no futuro.

Pois bem, eis que Muricy me estreia vencendo a Ponte Preta por 1x0 no Morumbi. Alívio, pelo resultado considerado obrigatório, e início da empolgação natural em estreias de treinadores. Depois emendou uma vitória no Rio contra o Vasco e em São Paulo contra o Atlético-MG. Três vitórias seguidas. Pronto. O “Messias Tricolor” estava de volta. Todos os problemas desse terrível Brasileirão do São Paulo estavam resolvidos. Rebaixamento? Pff. Passaram a fazer contas da distância pro G4, isso sim.

Até na histórica arrancada do título de 2008 ouviu-se falar.

Mas acontece que já faz tempo que não estamos em 2008, né moçada? Muita coisa mudou, inclusive Muricy e o estilo de jogo que FUNCIONA por aqui. Flamengo e Corinthians em 2009, Santos e Fluminense em 2010, Cruzeiro e Vasco em 2011, Fluminense e Atlético-MG em 2012 e Cruzeiro e Atlético-MG (novamente) em 2013, provam que no futebol moderno você PRECISA de efetividade ofensiva pra vencer. Precisa de alguém que de fato saiba trabalhar um time, criar (e treinar) jogadas, estudar e explorar fraquezas do adversário. Boas defesas por si só já não bastam mais.

E como trabalhar parte ofensiva, jogadas ensaiadas e esse tipo de coisas nunca foi o forte do Muriçoca (perguntem aos torcedores de Flu e Santos quanto ao “vasto leque” de jogadas treinadas por Muricy), considerá-lo hoje a solução plena dos problemas de um grande clube, é superestimá-lo demais. Tirem isso da cabeça também.

Aliás, se já não entraram na moda de ir pro extremo oposto.

Após a sequência de vitórias, o São Paulo emendou (vejam só vocês) uma sequência de derrotas. Perdeu do Goiás graças ao “gol de pinball” de Rodrigo no finzinho. Perdeu do Grêmio no estilo mais Grêmio possível (defende, defende, defende, uma bola no ataque, gol). E ontem tomou três a zero do Santos na Vila Belmiro jogando mal, muito mal. Destoou do futebol que havia jogado nas outras partidas (inclusive nas derrotas).

Assisti o clássico com alguns amigos e, ao final do jogo, um são-paulino em uma mesa próxima já pedia a cabeça de Muricy. “Não serve. Não sabe colocar o time pra atacar nem adversário com jogador a menos. Muricybol. Blá, blá, blá...”.

Tá errado também. Se você assistiu os jogos anteriores do São Paulo, percebeu que Muricy colocou em campo uma equipe minimamente capaz de disputar os jogos que precisa pra não cair. Realmente a derrota pro Santos foi gritante e precisa ser “respondida” nos próximos jogos. Mas foi exceção (acho).

Se você pensou que Muricy era Deus e que o São Paulo ia do dia pra noite passar a ganhar de todo mundo, jogar igual ao Bayern, coisa e tal, isso é um problema seu. Muricy é comum, teimoso e tá ficando ultrapassado.

Mas ainda reúne condições pra manter o São Paulo à frente de Criciúma, Vasco, Ponte Preta e Náutico. Dizer que ele “não serve” pra salvar o São Paulo é uma grande bobagem. Serve. Se cair, será por questões muito mais graves que o treinador.

Treinador este que ontem saiu do jogo falando que ainda sofre por “não conhecer totalmente o grupo”. E aí cabe um puxão de orelha. Acho péssimo dizer isso nesse momento. Passa a impressão de que quer tirar o corpo fora.

Assim como fez Rogério ao falar de Ney Franco.

Assim como fez Juvenal ao contratar Muricy.

E nesse tal de tira o corpo fora pra lá e pra cá, pode acabar sobrando pra quem menos tem culpa e que mais sofre com isso tudo.

E não tô falando de você, que desistiu de derrubar o Juvenal, que considera o Luis Fabiano ídolo e que gritou “É Muricy” num Morumbi todo trabalhado no “vermelho-cor-da-raça”.

Pra você só deixo o meu pesar mesmo.