segunda-feira, 10 de junho de 2013

Nem tanto ao mar

O torcedor da Seleção Brasileira é realmente bem diferente do torcedor de clube.

Enquanto o clubista defende seu escudo com unhas e dentes, mesmo estando claramente errado, o brasileirinho até acha bacana encontrar um defeito no time pra ressaltar.

A Seleção, assim como o time do clubista, é uma equipe cheia de defeitos.

Mas depois dos jogos contra a Inglaterra e a França, começa-se a perceber que não temos por aqui o pior selecionado do mundo.

Calma, este não será um papo pacheco de que tá tudo ótimo. Ainda não há como confiar em títulos deste escrete e por isso não vou tentar trazer ninguém pro lado extremo do otimismo.

Apenas tirar do extremo do pessimismo.

E pra isso precisamos basicamente de duas coisas: olhar para o lado e para nós mesmos.


Comecemos pelos retrovisores. E olhando pra Europa, eterna favorita dos tupiniquins.

Alemanha, Espanha e Holanda possuem bases prontas de no mínimo sete anos.

Ainda assim temos visto a seleção germânica ratear em tudo o que disputa, os holandeses se tornarem reis os das eliminatórias (100% de aproveitamento desde sei lá quando) que nunca ganham nada e uma Espanha que já foi mais temida. Prova disso foi seu último amistoso com os haitianos.

Se é o Brasil que faz só 2x1 e toma um golaço daquele, era vexame. Como foi a Espanha, se poupou, dirão.

Óbvio que são as três favoritas à Copa.

Mas vamos com calma antes de cravar que o título "não sai daí".

Fora as três “potências” citadas anteriormente, tentemos apontar quem supostamente está muito melhor que a gente pelo mundo afora.

A Itália está tentando se renovar com alguns garotos de talento. Mas ainda não estão prontos, e só não perderam pra nós porque também não estávamos maduros o suficiente para controlar um 2x0 a favor.

A Inglaterra também quer sangue novo, no entanto com menos valores de destaque que a Itália. Também não foram vencidos pelo Brasil por acaso.

Portugal está em uma briga de foices e facas com a Rússia por uma vaga na Copa. Deve ir pra repescagem pela 56ª Copa seguida.

A Argentina supostamente tinha encontrado um jeito de fazer Messi render. Mas vem de dois empates contra Bolívia e Colômbia, provando que estão mais próximos da “Messidependência” do que de qualquer outra coisa.

O Uruguai, numa edição da eliminatória que só conta com nove seleções e não tem o Brasil, briga com Peru e Venezuela pela vaga da repescagem que vai pro quinto colocado. E está perdendo. Pros dois.

África, Ásia e Concacaf não revelaram nenhuma “nova força do futebol”, e virão com os sempre medianos Japão, Costa do Marfim, México...

Ah, e o nosso bicho-papão França tá desse jeito aí que vocês viram ontem.

O que prova que, mesmo sem um time arrumado, torcer pro Brasil contra esses caras aí não é absurdo.

Sei que vocês estão acostumados e gostam de entrar como favoritos em tudo o que disputam (esquecendo por vezes o poder devastador que o favoritismo tem). Mas ser “zebra” também pode ser divertido. A começar pela necessidade de se torcer DE VERDADE por algo nem tão provável (mas perfeitamente possível, importante ressaltar).

Pois bem, analisamos aí, de leve, como o resto do mundo está. Isto posto, vamos olhar um pouco para o nosso próprio rabo.

Felipão tem deixado claro que a base da Seleção, pelo menos na Copa das Confederações, não foge de: Júlio César, Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo (Fernando), Paulinho (Hernanes) e Oscar; Hulk (Lucas), Neymar e Fred.

Por incrível que pareça, a defesa (tão decantada por todos antes dos jogos) se mostrou o ponto de maior fragilidade do time. A nova era de Felipão empatou muitos jogos “ganháveis” por falhas bobas do setor.

E no jogo de ontem contra a França, David Luiz mostrou um lado estabanado e por vezes violento que pouca gente conhecia.

Setor defensivo costuma depender mais do que o ofensivo da intensidade do jogo para render bem. Em amistosos, é normal vermos zagueiros cometendo erros que não cometeriam em competições oficiais. O jogo não vale nada e rola um “déficit de atenção geral”, que fica mais evidente em defensores (jogadores de menor nível técnico) do que em atacantes.

Sabendo da capacidade do Thiago e do David, quero acreditar que seja isso.

No meio de campo, Felipão tem a conhecida “dor de cabeça boa”, principalmente na posição 8.

Ao mesmo tempo que não podem jogar juntos (dizem), também não dá hoje pra escolher entre Paulinho e Hernanes. Toda vez que estiveram em campo, foram bem. Paulinho fez um golaço na Inglaterra. Hernanes deixou o seu na França.

E o Oscarzinho tá jogando bem pra caramba também. Enfim, aqui não dá pra reclamar.

O problema ofensivo está na transição pelas pontas.

Não tem jeito, não vejo bola de titular de Seleção no Hulk. Pode ser combativo, esforçado, chutar forte, fazer pipoca e lavar carpetes.

Com ele na ponta não vejo perspectivas de jogadas agudas. Só força física, corte por meio e chute de esqueda. Quase um Robben do Nordeste.

E na ponta esquerda o menino Neymar tem feito seguidas partidas ruins. Salvo um breve período no primeiro tempo do jogo contra a Inglaterra, não produziu nada desde o amistoso encomendado contra a Bolívia.

Passa a sensação de escolher sempre a jogada mais difícil e deixar seu jogo “manjado”. Se não mudar o estilo e se tornar mais efetivo nos jogos, seria o caso de se cogitar um banquinho de reservas, de leve, só pra mexer com a cabeça (sabemos que não vai acontecer por razões já conhecidas).

No miolo da área estamos bem com o Fredão. Até assistência deu ontem. Além de ser aquele tipo de cara que “chama o gol”. Não tem muita explicação, sempre que ele tá lá, a chance vem.

No geral, como se vê, não somos um caso perdido.

Na defesa não precisa nem mexer, é só acordar. No meio tá beleza. E no ataque estamos com alguns defeitos nas pontas.

Cenário bem mais favorável do que o que pregam por aí alguns mensageiros do apocalipse.

Na Copa das Confederações, estamos em um grupo que não tinha como ser mais difícil.

Não é absurdo hoje, com o time ganhando forma, não vencermos o Japão, o México e a Itália.

Também não é absurdo, com os valores que temos, vencer os três sem nem levar gol.

O fato é que dá pra jogar.

E em futebol isso basta pra que você que se diz torcedor, torça.

Vai que a gente ganha?

Ficará chato fazer parte do grupo que terá de criar desculpas pra justificar o erro na “previsão de tragédia”.

É bem mais legal fazer parte da festa, não é?

Imagine-a.