segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O que eu também não entendo

Dá pra contar nos dedos de uma mão quantas vezes no ano temos um grande jogo, daqueles comentados a exaustão uma semana antes e depois de acontecerem.

O clássico deste último domingo entre Santos e São Paulo foi o primeiro de 2013 a se encaixar nessa condição. Foi o reencontro de Paulo Henrique Ganso com a torcida santista na Vila Belmiro.

A história entre Ganso e o Santos todo mundo já decorou. Ganso “jogou” muito tempo puto com o Santos alegando falta de reconhecimento e vontade de sair, enquanto a torcida ficou muito tempo puta com Ganso afirmando que o mesmo forçava a saída do clube causando seguidos momentos de mal-estar no clube, com críticas a um contrato que ele mesmo não quis alterar, e propositadamente atuando de forma displicente.

A torcida do Santos nós já sabíamos como iria se comportar. A expectativa então era de se saber como (ou pelo menos se) Ganso reagiria a tudo isso.

Ele tinha um bom time totalmente disposto a ajudá-lo. Ele tinha o apoio de um treinador que o bancou plenamente antes do jogo. Além da maior motivação do mundo pra provar que todos aqueles que o hostilizavam estavam errados.

Ainda assim, jogou exatamente como nos tempos em que forçava a saída do Santos.

A chance de vitória não o motivou. A titularidade não o motivou. A oportunidade única de se vingar lindamente do Santos não o motivou.

O que começa a deixar dúvidas se seu jogo displicente era de fato proposital.

Afinal de contas até quando Ganso estará “pegando ritmo”?

Até quando ele estará “voltando de uma contusão grave”?

Até quando se falará em Paulo Henrique Ganso pensando nas suas atuações do primeiro semestre de 2010?

Comparando situações, me lembro do Carlos Alberto, meia revelado no Fluminense e que rodou o mundo.

Toda vez em que Carlos Alberto chegava numa nova equipe alguém dizia “se ele voltar a jogar a bola que sabe...”.

E hoje o são-paulino está exatamente na mesma situação do santista em 2011. Apoiando e acreditando piamente num jogador o qual não se sabe ao certo até onde pode (ou quer) render.

Ney Franco, bom técnico que é, precisou de dois jogos pra perceber a discrepância na intensidade do jogo praticado por Ganso perante ao resto do grupo.

Aloísio, ex-Figueirense, tomou o lugar do ex-santista jogando fora de posição, pra se ter uma ideia.

Daí Ney decidiu colocá-lo novamente como titular contra o Santos na Vila.

Temos de concordar que fazia todo o sentido do mundo (sem sarcasmos dessa vez, realmente fazia sentido).

Afinal, em que jogo Ganso poderia estar mais motivado a fazer sua melhor partida dos últimos anos?

O treinador foi lá e bancou. Chegou a falar em um time escalado com “Ganso e mais dez” no domingo.

O jogo chegou aos 32 minutos do segundo tempo, e, com 3x1 contra, Ney Franco teve de tirá-lo de campo.

Além de simbólica, a substituição determinou o final do principal confronto do dia. Ganso foi “derrotado” pela torcida do Santos, que sempre o apontou como "o" problema. O que o São Paulo conseguisse dali em diante no que se refere a placar, não faria mais diferença para os santistas.

Para estes o problema nunca foi o São Paulo, ao contrário do que alguns tricolores podem pensar. Ganso poderia ter ido para o Corinthians, para o Aracruz do Espírito Santo ou para o Al Gharaffa-EAU.

O problema era pessoal com o tal meia. E foi resolvido.

Quem, assim como eu, esperava que Ganso viesse pra Vila “com a faca entre os dentes”, ficou sem entender.

Muitos (inclusive este que vos fala) ainda são temerosos em cravar que Ganso “não é tudo aquilo que se pensava”, porque isso significaria abrir mão de um sonho dos torcedores brasileiros.

Dribladores e artilheiros nós sempre tivemos, aos montes. Gênios do passe, da criação de jogadas, só alguns.

Assim, a vontade do brasileiro em ter um “Zidane” pra chamar de seu, pode ter feito de Ganso o craque de um semestre considerado gênio até hoje.

Aceitemos, Ganso não será Zidane.

Aliás, hoje, fica a sensação de que nem Ganso mais ele consegue ser (se é que o Ganso verdadeiro era o de 2010).

Sabemos que o mundo gira e as coisas sempre podem mudar na vida das pessoas.

Mas por enquanto a vantagem parece ser de quem passou o cara pra frente, garantindo pra si um valor que ele talvez nunca mais valha.

“Ah, você está sendo muito duro com o cara Dello. Ele ainda pode voltar a jogar muita bola”.

Olha, até pode. Mas quanto tempo estamos dispostos a esperar pra isso acontecer? Quanto tempo a instituição São Paulo Futebol Clube estará disposta a esperar pra que Ganso justifique pelo menos parte dos milhões pagos ao Santos? E se ele continuar com esse estilo “slow motion” que de vez em quando encontra um passe genial?

“Ah, mas você não pode negar que o cara tem muita técnica”.

Até tem, e é aí que está o problema. No futebol, um cara só joga mal frequentemente por duas razões; ou porque é ruim mesmo, ou por preguiça.

Se formos concluir que ruim de bola ele de fato não é, sobra só uma alternativa.

Lembrando sempre que o investimento foi pesado pra um cara que perdeu espaço no clube que o revelou, foi esquecido pela Seleção, se transferiu, virou banco no novo clube e parecer estar “conformado” com a situação.

O Santos tentou por mais ou menos dois anos, e mesmo assim não conseguiu reverter a situação e fazer Ganso jogar o que supostamente pode.

É a vez do São Paulo tentar.

E enquanto clubes e torcedores se confrontam em argumentos pró e contra Ganso, este segue incólume e indiferente ao desmanche moral que seu desempenho tem proporcionado.

O santista não perdoa, o são-paulino não desiste, o Ganso não se importa.

E eu não entendo.