“Ah, mas pra encerrar a temporada eu queria fazer a
corrida num lugar bem maluco, sabe? Um lugar onde você não sabe se chove ou se
faz sol, que o clima mude umas dez vezes durante o dia... Já sei, vamos pra São
Paulo”.
E assim ficou definido o local da prova de encerramento da
temporada de Fórmula 1.
Tá, não foi assim. Mas poderia.
O GP de Interlagos deu toda a emoção que o final da
disputa prometia não ter. Vettel remava
de braçada já faziam seis corridas. Alonso nitidamente não tinha mais carro pra
acompanhar o alemão em condições NORMAIS de clima e corrida.
Mas aqui meu amigo, aqui é São Paulo.
Nem o povo daqui é normal, que dirá o clima.
Com Sebastian em quarto, nem mesmo uma vitória de
Fernando seria suficiente para que o espanhol tomasse a frente. Empatariam em
pontos e, no principal critério de desempate (número de vitórias), daria
Vettel.
Sabendo da ingrata missão de se colocar tantas
posições à frente da RBR, Alonso começou a bater tambor por chuva. E com toda a
razão. Na água o equilíbrio é muito maior. E a experiência poderia fazer a
diferença.
No entanto, nos treinos classificatórios de sábado,
não houve chuva significativa. As McLaren’s confirmaram o favoritismo no estilo
de pista paulistana. Lewis Hamilton na pole e Jenson Button em segundo. Na
segunda fila, Webber e Vettel colocaram a RBR em boa situação.
Alonso largaria apenas em oitavo, bem atrás até mesmo
de seu companheiro de equipe, que ficou em quinto, Felipe Massa [agora de
contratinho novo e correndo bem melhor (estabelecer relação entre as duas
coisas fica por conta de vocês)].
Chegou o domingo, chegou a corrida.
E já na primeira volta o campeonato todo mudou.
Ironicamente, faltou malícia a Bruno Senna na saída do S do Senna. Tentou
forçar passagem contra Vettel (que largou mal demais, diga-se de passagem) e
encheu a lateral do alemão. Fim de corrida pro brasileiro.
E uma incrível sobrevivência de Vettel.
E uma incrível sobrevivência de Vettel.
Tem quem não acredite em sorte de campeão. Esses têm
então de arrumar um nome pro que aconteceu com Sebastian hoje. Levou uma
porrada que tiraria qualquer um da corrida, mas que só estragou seu assoalho,
ficou de costas pro mundo e teve a desesperadora visão de vários carros vindo
de frente à ele e desviando em cima da hora. Sobreviveu, voltou pra corrida em
último e começou a remar tudo de novo.
Alonso ganhou posições e terminou a primeira volta
como campeão mundial.
Nico Hulkenberg, de Force India, foi a grata surpresa
do dia e liderou a corrida por muitas e muitas voltas.
A chuva ficou naquele vai e vem que nós, paulistanos, já
estamos acostumados.
Já os carros de F1 sofrem um pouco mais, e aí foi aquele “põe-e-tira” pneu pra seco e pra chuva durante toda a prova.
Já os carros de F1 sofrem um pouco mais, e aí foi aquele “põe-e-tira” pneu pra seco e pra chuva durante toda a prova.
Na parte final, a chuva apertou de vez. Tanto que na
entrada do S, quando Hulkenberg e Hamilton ultrapassavam ao mesmo tempo um
retardatário, o piloto da Force India perdeu totalmente a traseira do carro,
virou passageiro e acertou em cheio o inglês que se despedia da McLaren.
Hamilton ficou fora e perdeu uma corrida aparentemente ganha. Hulkenberg
continuou na corrida, mas perdeu uma chance de pódio que não se sabe se terá
novamente na vida.
Voltando a disputa do título, pouco antes deste ápice
da chuva, Vettel trocou seus pneus por outro jogo para pista seca. Erro crasso
de estratégia da RBR, coisa raríssima numa temporada em que a equipe suíça
muito mais acertou do que errou. Quando a água decidiu cair, lá foi o alemão de
novo pro box.
Voltou em 11º, posição que não pontua, e com Alonso em
terceiro (na eminência de virar segundo já que este era Felipe Massa, sempre
disposto a ajudar a “família” Ferrari, no que está muito certo), Sebastian
estava novamente perdendo o título faltando 19 voltas.
Não era um dilúvio, mas dentro do carro de Vettel
podemos dizer que a “água bateu na bunda”. Ganhar posições era questão de vida
ou morte. Alonso virou segundo, e passava a marcar dezoito pontos. Só o sétimo
lugar colocava Vettel novamente como líder do campeonato.
Paul Di Resta, Nico Rosberg e Kimi Raikkonen estavam
na sua frente e precisaram parar também para trocar seus pneus. O oitavo lugar
ainda não era suficiente e era hora de ir pra cima do, por vezes suicida, Kamui
Kobayashi.
Era óbvio quem tinha mais a perder com uma possível
batida. Por isso a ultrapassagem foi “homeopática”, conquistada um pouquinho de
cada vez durante algumas voltas.
Já na sétima posição, apareceu a oportunidade de passar também Schumacher, em sua nova aposentadoria. Outra ultrapassagem alcançada com todo o cuidado.
Já na sétima posição, apareceu a oportunidade de passar também Schumacher, em sua nova aposentadoria. Outra ultrapassagem alcançada com todo o cuidado.
Em sexto, Vettel só perderia a taça se Alonso
alcançasse o líder da prova Jenson Button. O que nitidamente não seria
possível.
E como GP do Brasil não é GP do Brasil sem um acidente
forte na curva do Café, a três voltas do fim Di Resta derrapou e encheu o muro.
Fim de prova com Safety Car na pista, Button em primeiro, Alonso em segundo,
Massa em terceiro e o mais jovem tricampeão mundial da história em sexto.
No fim, justiça foi feita.
Esta foi realmente uma temporada especial. Devolveu
aos fãs de automobilismo muito do tesão em acompanhar a F1. A expectativa agora
é pra que esse nível ao menos se mantenha pra 2013.
Porque 2012 já deixa saudades.
E se na primeira metade da temporada todo mundo correu
em pé de igualdade, na segunda só deu ele.
É compreensível a frustração de Alonso, convertida em
falatórios, pois o cara esteve muito perto de vencer o Mundial com um carro
ruim, o que faria dele um mito eterno do automobilismo.
Mas hoje, consagramos outro mito. E ele não fala uma vírgula
em espanhol.
A partir do ano que vem, Vettel passa correr atrás dos
números de Schumacher para, quem sabe um dia, se tornar o maior vencedor de
todos os tempos.
E marcar ótimos tempos é com ele mesmo.