domingo, 25 de novembro de 2012

Entre outras quatro linhas #32 - F1

“Ah, mas pra encerrar a temporada eu queria fazer a corrida num lugar bem maluco, sabe? Um lugar onde você não sabe se chove ou se faz sol, que o clima mude umas dez vezes durante o dia... Já sei, vamos pra São Paulo”.

E assim ficou definido o local da prova de encerramento da temporada de Fórmula 1.

Tá, não foi assim. Mas poderia.

O GP de Interlagos deu toda a emoção que o final da disputa prometia não ter. Vettel remava de braçada já faziam seis corridas. Alonso nitidamente não tinha mais carro pra acompanhar o alemão em condições NORMAIS de clima e corrida.

Mas aqui meu amigo, aqui é São Paulo. 

Nem o povo daqui é normal, que dirá o clima.

Antes da corrida o cenário era o seguinte: Vettel tinha treze pontos de vantagem pra Alonso. Para se sagrar tricampeão precisava apenas de um quarto lugar. (Relembrando o sistema de pontuação: Vencedor faz 25 pontos, segundo faz 18, terceiro faz 15, quarto faz 12, quinto faz 10, sexto faz 8, sétimo faz 6, oitavo faz 4, nono faz 2 e décimo marca um potinho).

Com Sebastian em quarto, nem mesmo uma vitória de Fernando seria suficiente para que o espanhol tomasse a frente. Empatariam em pontos e, no principal critério de desempate (número de vitórias), daria Vettel.

Sabendo da ingrata missão de se colocar tantas posições à frente da RBR, Alonso começou a bater tambor por chuva. E com toda a razão. Na água o equilíbrio é muito maior. E a experiência poderia fazer a diferença.

No entanto, nos treinos classificatórios de sábado, não houve chuva significativa. As McLaren’s confirmaram o favoritismo no estilo de pista paulistana. Lewis Hamilton na pole e Jenson Button em segundo. Na segunda fila, Webber e Vettel colocaram a RBR em boa situação.

Alonso largaria apenas em oitavo, bem atrás até mesmo de seu companheiro de equipe, que ficou em quinto, Felipe Massa [agora de contratinho novo e correndo bem melhor (estabelecer relação entre as duas coisas fica por conta de vocês)].

Chegou o domingo, chegou a corrida.

E já na primeira volta o campeonato todo mudou. Ironicamente, faltou malícia a Bruno Senna na saída do S do Senna. Tentou forçar passagem contra Vettel (que largou mal demais, diga-se de passagem) e encheu a lateral do alemão. Fim de corrida pro brasileiro. 

E uma incrível sobrevivência de Vettel.

Tem quem não acredite em sorte de campeão. Esses têm então de arrumar um nome pro que aconteceu com Sebastian hoje. Levou uma porrada que tiraria qualquer um da corrida, mas que só estragou seu assoalho, ficou de costas pro mundo e teve a desesperadora visão de vários carros vindo de frente à ele e desviando em cima da hora. Sobreviveu, voltou pra corrida em último e começou a remar tudo de novo.

Alonso ganhou posições e terminou a primeira volta como campeão mundial.

Nico Hulkenberg, de Force India, foi a grata surpresa do dia e liderou a corrida por muitas e muitas voltas.

A chuva ficou naquele vai e vem que nós, paulistanos, já estamos acostumados. 

Já os carros de F1 sofrem um pouco mais, e aí foi aquele “põe-e-tira” pneu pra seco e pra chuva durante toda a prova.

Na parte final, a chuva apertou de vez. Tanto que na entrada do S, quando Hulkenberg e Hamilton ultrapassavam ao mesmo tempo um retardatário, o piloto da Force India perdeu totalmente a traseira do carro, virou passageiro e acertou em cheio o inglês que se despedia da McLaren. Hamilton ficou fora e perdeu uma corrida aparentemente ganha. Hulkenberg continuou na corrida, mas perdeu uma chance de pódio que não se sabe se terá novamente na vida.

Voltando a disputa do título, pouco antes deste ápice da chuva, Vettel trocou seus pneus por outro jogo para pista seca. Erro crasso de estratégia da RBR, coisa raríssima numa temporada em que a equipe suíça muito mais acertou do que errou. Quando a água decidiu cair, lá foi o alemão de novo pro box.

Voltou em 11º, posição que não pontua, e com Alonso em terceiro (na eminência de virar segundo já que este era Felipe Massa, sempre disposto a ajudar a “família” Ferrari, no que está muito certo), Sebastian estava novamente perdendo o título faltando 19 voltas.

Não era um dilúvio, mas dentro do carro de Vettel podemos dizer que a “água bateu na bunda”. Ganhar posições era questão de vida ou morte. Alonso virou segundo, e passava a marcar dezoito pontos. Só o sétimo lugar colocava Vettel novamente como líder do campeonato.

Paul Di Resta, Nico Rosberg e Kimi Raikkonen estavam na sua frente e precisaram parar também para trocar seus pneus. O oitavo lugar ainda não era suficiente e era hora de ir pra cima do, por vezes suicida, Kamui Kobayashi.

Era óbvio quem tinha mais a perder com uma possível batida. Por isso a ultrapassagem foi “homeopática”, conquistada um pouquinho de cada vez durante algumas voltas. 

Já na sétima posição, apareceu a oportunidade de passar também Schumacher, em sua nova aposentadoria. Outra ultrapassagem alcançada com todo o cuidado.

Em sexto, Vettel só perderia a taça se Alonso alcançasse o líder da prova Jenson Button. O que nitidamente não seria possível.

E como GP do Brasil não é GP do Brasil sem um acidente forte na curva do Café, a três voltas do fim Di Resta derrapou e encheu o muro. Fim de prova com Safety Car na pista, Button em primeiro, Alonso em segundo, Massa em terceiro e o mais jovem tricampeão mundial da história em sexto.

No fim, justiça foi feita.

Esta foi realmente uma temporada especial. Devolveu aos fãs de automobilismo muito do tesão em acompanhar a F1. A expectativa agora é pra que esse nível ao menos se mantenha pra 2013.

Porque 2012 já deixa saudades.

E se na primeira metade da temporada todo mundo correu em pé de igualdade, na segunda só deu ele.

É compreensível a frustração de Alonso, convertida em falatórios, pois o cara esteve muito perto de vencer o Mundial com um carro ruim, o que faria dele um mito eterno do automobilismo.

Mas hoje, consagramos outro mito. E ele não fala uma vírgula em espanhol.

Parabéns pro garoto.

A partir do ano que vem, Vettel passa correr atrás dos números de Schumacher para, quem sabe um dia, se tornar o maior vencedor de todos os tempos.

E marcar ótimos tempos é com ele mesmo.