...as coisas seriam muito mais fáceis e dignas. Se todos que trabalham com esse esporte tivessem como foco apenas o espetáculo oferecido, tudo seria mais claro e atraente pra nós, torcedores, que só estamos lá pela bola jogada, nada mais.
Mas, como em quase tudo na vida, o futebol tem de conviver também com outro fator muito chato chamado política (e com as politicagens).
Aí complica tudo. Quem é político não necessariamente faz o que é bom para a coletividade. Antes de qualquer outra coisa ele vai querer fazer o que (ele acredita que) é bom pra sua gestão.
E na semana passada, mais uma vez, um ato essencialmente político mudou os rumos da Seleção Brasileira.
E é sobre ele que falaremos hoje.
Primeiro é importante que fique claro pra todo mundo que Mano Menezes não foi demitido com base no futebol apresentado pela Seleção.
Nem faria sentido, já que, só agora, começa-se a ver alguma estrutura de equipe no selecionado de Mano. Com Paulinho e Kaká no meio, a evolução foi nítida e as dúvidas começavam a sumir.
Mas a verdade é que a Era Mano na gestão José Maria Marin já “nasceu morta”. O novo presidente nunca fez questão de esconder a vontade de se desfazer de tudo o que Ricardo Teixeira deixou. Nunca mostrou estar “fechado” com Mano, fazendo da insegurança mais um obstáculo ao trabalho do treinador.
Mano Menezes ficou responsável por uma grande renovação da Seleção Brasileira, já que os pilares da equipe anterior (Lúcio, Maicon, Juan, Júlio César, Gilberto Silva, Robinho, etc) não tinham mais condições de ajudar nosso escrete devido a idade avançada.
Foi então necessária a “promoção” de toda a base da multicampeã, sob o comando de Ney Franco, Seleção Brasileira Sub-20. Vem Lucas, Alex Sandro, Danilo, Oscar, Ganso (que não jogou com o Sub-20, mas fazia parte do “novo grupo olímpico”), Neymar... Toda a molecada de uma vez só, com a responsa de formar um time pra Copa de 2014.
Pois bem, como não disputamos as Eliminatórias (o que seria muito importante num momento de transição), ficamos jogando amistosos. E como o time era novíssimo, ganhamos das seleções fracas e perdemos pras fortes. Nada mais natural.
No entanto, Marin apenas esperava o acúmulo destas derrotas tidas como normais para justificar uma demissão com “a falta de combatividade contra nossos maiores adversários pra Copa”.
A vontade de se livrar de Mano era maior que tudo. Só uma campanha sobrenatural, vencendo todo mundo com um time juvenil, seguraria Mano.
Mano Menezes é um técnico de bom nível, mas não é sobrenatural.
Fique claro que particularmente não achei o trabalho de Mano grandes coisas. Mas o que quero deixar claro aqui é que a demissão nesse momento não fez nenhum sentido técnico, apenas político.
Sua queda era questão de tempo.
Veio agora. Poderia ter sido mês passado, poderia ser mês que vem. O que é certo é que Mano iria rodar mais hora, menos hora.
Como toda ação política tem reflexo, essa também encontrou sua oposição, o “diplomata” Andrés Sanchez. Ele era totalmente contra a saída de Mano e, ao tornar-se voto vencido na CBF, seu caminho natural é sair pra ser oposição nas próximas eleições. Já pensou o Andrés como presidente da CBF?
Enfim, voltando a direção técnica, estamos sem treinador. Marin avisou que anunciará o novo nome em janeiro, mais uma vez mostrando toda a malícia de um “macaco velho da política”.
Até janeiro, todo mundo vai ficar discutindo quem deveria ser o novo treinador. E enquanto isso ele vai acompanhando o apelo popular pra garantir que o novo nome venha “nos braços do povo”.
Se fosse anunciar hoje, provavelmente o nome escolhido seria o de Felipão. Mas isso pode mudar dependendo do desempenho de Tite no Mundial de Clubes e da piora do clima de Muricy no Santos. Abel Braga é nome totalmente fora de cogitação pois o mesmo não rompe contratos de jeito nenhum, e o Fluminense não irá liberá-lo por livre e espontânea vontade.
Ah, e antes que eu me esqueça, não existe nenhuma, eu disse NENHUMA possibilidade de Pep Guardiola ser ao menos consultado por Marin. Como ressaltei mais acima, Marin é um “macaco velho da política”, e sabe que se contratar Guardiola o risco é todo dele.
Se o Brasil vai lá e ganha o hexa, foi graças ao Guardiola que é um treinador genial, espetacular, blá, blá, blá...
Se perde, a culpa é de quem fez uma aposta irresponsável num treinador estrangeiro, que precisaria de muito tempo pra “se adaptar à nova cultura”, há apenas 18 meses da Copa.
Ninguém na CBF liga do novo treinador levar o mérito em caso de conquista. Mas não abrem mão de alguém que leve a culpa em caso de derrota.
Lazaroni em 90, Zagallo em 98, Parreira em 2006 e Dunga em 2010 foram “os” culpados do fracasso brasileiro.
E assim será com o próximo também.
Perdeu? O presidente depois da Copa vai lá, demite o cara que serviu de escudo e ainda sai como líder atuante.
Política amigos, política.
Percebem como as vitórias não são importantes para as lideranças pelo reforço de imagem da nação, mas sim para sua promoção individual?
Pois é. E é na mão dessa gente que está o nosso futebol.