Neste fim de semana aconteceram as últimas provas e o encerramento dos Jogos Olímpicos de Verão de 2012.
Por se destacar principalmente em esportes coletivos, o Brasil geralmente paga um preço alto nos Jogos Olímpicos. Passa sempre os primeiros dez dias de competições vendo todos os países encherem a mala de medalhas, enquanto nós só recebemos algum destaque nos cinco últimos dias.
Em Londres não foi diferente. Mesmo com as agradabilíssimas surpresas do judô e da ginástica, as atenções dos brasileiros eram prioritariamente pro basquete, futebol e vôlei.
No basquete já havíamos rodado previamente. Mas ainda tinham três ouros “na mesa”. Os dois “vôleis” e o futebol masculino.
Dos três, pegamos um. As duas pratas que deixamos de perder se juntaram a de Esquiva Falcão no boxe. Levamos também um bronze, heróico, com Yane Marques no pentatlo moderno.
E foi assim, com vitórias, derrotas com sabor de vitórias, e derrotas com gosto de derrota mesmo que encerramos nossa participação nos Jogos de Londres.
Meninas, parabéns. Ganhar dois ouros consecutivos é pra pouquíssimas. E vencer uma final olímpica apresentando um ATROPELO desses então é só pra lendas do esporte. Vocês me lembraram o Bolt. Nos primeiros 20 metros, deixaram o adversário ficar na frente, passaram por cima a partir dos 50, e depois dos 80 metros tiveram até de desacelerar um pouco pra não ficar ridículo. Zé Roberto, parabéns pra você também por guiar essa geração para a história.
Esquiva ficou no quase – Ganhamos uma prata no boxe. É o maior resultado de toda a nossa história. Este fato por si só faria da derrota do Esquiva uma daquelas com absoluto sabor de vitória. Mas quem viu a luta, percebeu que o ouro não estava distante do brasileiro. Aí ficou aquela sensação chata de que “dava”. Mesmo assim o rapaz entrou pra história e recebe nossos parabéns eternos pelo feito em terras britânicas.
Pra não ficarmos com a derrota pro japonês na mente, melhor lembrarmos da épica luta nas semifinais contra o britânico Anthony Ogogo. Enfrentar o lutador da casa poderia ter sido um problema, mas o que vimos foi quase um esquartejamento. 16-9 fora o baile, lembram? Seu irmão, Yamaguchi, também merece os parabéns pelo bronze. Perdi a luta contra o russo, mas li um pouco sobre ela e quem viu também confirmou que o resultado foi justo. Melhor assim.
Yane Marques – Então, você com certeza estava lá, naquele almoço de Dia dos Pais com o seu velho, desencanado dos Jogos depois da derrota do vôlei masculino (a qual falaremos logo mais), achando que não rolaria mais nada pra gente né? Claro, 256 dos 257 atletas de nossa delegação já haviam “fechado a conta” e o bonde de volta para o Brasil já estava quase pronto pra retornar, não vai rolar mais nada.
Pois é, acontece que faltava ainda a última brasileira competir. Nossa última representante nos Jogos ainda não tinha disputado sua modalidade, o pentatlo moderno.
“Ah, pentatlo moderno. Pra ficar em 243544ª é melhor nem disputar”, diriam nossos comentaristas olímpicos do Facebook.
A pernambucana Yane Marques foi pra disputa fora do grupo das favoritas, não podemos negar. Mas começou muito bem na esgrima, ficou entre as melhores da natação e fez um percurso de poucas faltas no hipismo. Foi para o início da prova combinada (de tiro e corrida, onde deve-se acertar cinco alvos e correr um trecho de 1000 metros três vezes) cabeça a cabeça com a lituana Laura Asadauskaite. Era assumidamente a parte mais difícil para a brasileira. Mesmo assim, na raça, segurou seu lugar no pódio garantindo o bronze para o Brasil.
Essa medalha está, ao lado do ouro de Arthur Zanetti, no posto de conquista mais incrível do Brasil nos Jogos de 2012. Parabéns Yane, Pernambuco e todo o Brasil estão muito orgulhosos de você.
A tragédia de 2004 mudou de sexo – Repararam? Aconteceu com os caras exatamente a mesma coisa que rolou com as meninas em Atenas. Um misto de auto-confiança exacerbada, falta de concentração e pipocada. Com 2 sets a 0 e 22 a 19 no terceiro, as câmeras já pegavam alguns jogadores se abraçando no banco de reservas. É normal, esse grupo levou muita paulada de muita gente até esses Jogos. Estavam ali próximos do inacreditável. O time que nem passou da primeira fase da Liga Mundial seria campeão olímpico.
Seria o ápice, o máximo do máximo. Os campeões de 2004 iriam se despedir com o ouro e um valoroso “chupa” aos que os chamaram de velhos e acabados. Com 2 sets a 0 e 22 a 19 no terceiro, a sensação era de que “não tinha mais como não ser”. Não seria mais justo tirar deles isso, Deus não permitiria, sei lá. Só sei que o Brasil já se via campeão olímpico.
E de repente, tal qual a trágica semi feminina de Atenas, o time apagou.
Em muitos esportes, existem momentos de jogos em que o adversário aceita que perdeu. A partir daí o vencedor diminui sua intensidade de jogo e os dois caminham até o fim da partida. O grande erro do Brasil foi esperar isso da Rússia. No vôlei, e principalmente numa final olímpica, isso não existe. A certeza brasileira do seu mérito nessa conquista era tão grande, mas tão grande, que chegaram a acreditar que a Rússia “concordava” que o Brasil realmente tinha de ser campeão.
Deu no que deu.
Ô, ô ô, ô ô, quase de novo! – O futebol brasileiro é prata nos Jogos Olímpicos de Londres. Triste perceber que só enfrentamos um time de nível aceitável na final, e perdemos. Fizemos três gols na Bielorrússia, em Honduras, na Nova Zelândia, no Egito. Mas quando encontramos alguém em condições de nos encarar de igual pra igual, não conseguimos nada.
Quem acompanha futebol, e viu o jogo na manhã de sábado, ficou agoniado em ver como o Brasil aceitou a marcação encaixada do México. Quando o Oscar começou a ter de buscar a bola no pé do Thiago Silva, percebi que o jogo estava perdido.
"Mas temos treinador, ele vai perceber a escassez na armação e vai colocar uma ajuda pro Oscar". Pensei isso também. Até o meninão tirar dois jogadores do meio (Alex Sandro e Sandro) pra colocar dois atacantes (Hulk e Pato). Olha que gênio, jogando no 4-2-4, voltamos aos anos 30. Rômulo compulsivamente caia para a direita e Oscar, que já estava fudido antes, passou a ter de fazer, mais sozinho ainda, a bola transitar num espaço de 300 m². Não deu certo, como você pode imaginar.
Houveram alguns erros claros na convocação. Mas mesmo assim esse grupo tinha condições de vencer o México. E explico o porquê.
No futebol existem três níveis pelos quais você avalia um time: físico, técnico e tático.
Não soube de nenhum problema físico pós-corte do goleiro Rafael (exceto Paulo Henrique Ganso, mas aí sabemos que é outra história). Também acho que não dá pra questionar o nível técnico de um time que tem como “espinha dorsal” Thiago Silva, Marcelo, Oscar, Neymar e Leandro Damião.
Pois bem, se dois dos três níveis possíveis são fortes no seu time, você tem condições.
Já não seria mais injusta sua demissão.