sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O São Paulo foi rebaixado ou não no Paulistão de 1990?

É amigos, hoje o papo é polêmico e vai remexer numa história antiga.

Eu mesmo tinha acabado de nascer quando tudo aconteceu.

Em 1990, o Campeonato Paulista teria sua primeira “final caipira”, disputada pelo Bragantino de Vanderley Luxemburgo e o Novorizontino de Nelsinho Baptista.

O time de Bragança viria a ser campeão, depois de dois empates, por ter realizado melhor campanha nas fases anteriores.

Mas a grande polêmica da edição de 90 do Paulistão não teve nada a ver com a grande decisão. Um dos grandes paulistas realizou uma campanha pífia e foi “separado” dos outros grandes do Estado.

Desde então nasceu a discussão.

Afinal de contas, o São Paulo foi ou não foi rebaixado pra Série B do Paulistão?

Bom, vamos lá, por partes, tal qual Sra. Matsunaga.

A Federação Paulista de Futebol entrou no ano de 1990 com uma conclusão na cabeça: os 24 times que disputavam a elite na época eram muita coisa pra uma primeira divisão (e eram mesmo, vamos combinar). Foi convencionado que o número mais adequado para a disputa era de 14 clubes (no que concordo plenamente, inclusive para o modelo atual).

E como eu, presidente da FPF, posso fazer minha competição de 24 times se transformar em uma de 14 times?

Rebaixando dez, ora bolas.

Aí nasceu um grande problema para os cabeças da Federação.

O Campeonato Brasileiro tinha, entre suas curiosas regras, aceitar, em qualquer de suas divisões, apenas clubes que pertencessem as respectivas primeiras divisões de seus estados. Dos 24 times que jogavam a Serie A do Paulistão naquela época, 22 jogavam alguma divisão do Brasileirão.

Ao rebaixar dez times de uma vez só, a Federação iria ferrar (pra ser educado) com boa parte do interior paulista, que à época era muito forte (perceba que, até o momento, as decisões nada tem a ver com o São Paulo).

Então qual seria a solução? Módulos.

Sim meus queridos, aquele trambique que a CBF usou em 2000 na Copa João Havelange, pra facilitar a vida de clubes grandes como o Fluminense, já havia sido utilizada em São Paulo dez anos antes.

Os dez “eliminados” da elite em 90 não iriam para a segundona (à época chamada de Divisão Especial), mas sim para o Módulo II (ou Módulo Amarelo) da primeira divisão. Ficariam 14 no Módulo I (ou Módulo Verde) e subiriam quatro da Divisão Especial para completar o Módulo II em 1991.

Pronto, a manobra jurídica evitava o risco de eliminar vários paulistas do Campeonato Brasileiro. Mas algo deu errado.

Inicialmente, o novo regulamento previa a disputa do título paulista ficando apenas entre os clubes do Módulo I. As equipes do Módulo II disputariam apenas vagas para o Módulo I do ano seguinte (assim como toda boa segunda divisão faz). A Federação previa que dez pequenos iriam se separar do resto, e se alternariam entre os módulos (os seis melhores do II pelos seis piores do I anualmente). Tudo ótimo, tudo perfeito, não se fala mais nisso.

A regra do Paulistão de 1990 então era: 24 clubes divididos em dois grupos de 12. As 12 melhores equipes (por índice técnico, independente de quantas por grupo) passariam diretamente para a próxima fase. As 12 piores disputariam uma repescagem pelas duas últimas vagas no Módulo I de 1991. E as dez restantes ficariam pro Módulo II.

Eis que chega o São Paulo e realiza a 13ª campanha do Campeonato Paulista daquele ano.

E na repescagem também não consegue pegar uma das duas vagas restantes no Módulo I.

A Federação tinha então um grave problema pra resolver. A disputa do título de 1991 não teria o São Paulo, o que representaria grande prejuízo.

E agora? Qual seria a solução? Mudar o regulamento e criar um cruzamento entre os cinco melhores do Módulo I e os três melhores do Módulo II para a disputa do título.

Lembram como as maluquices de 2000 colocaram o São Caetano na disputa do título sem nunca ter jogado a Série A? Pois é, foi a mesma coisa esdrúxula em 91.

Bragantino e Santos bateram na trave das cinco vagas do Módulo I e não foram pra fase final.

O Santo André foi terceiro do Módulo II e entrou.

Enfim, com essa virada de mesa que deu três vagas para a "divisão inferior da elite", seria quase impossível não trazer o São Paulo pra disputa. E assim foi.

O Tricolor foi líder disparado do Módulo II em 91, foi pra fase final e bateu o Corinthians na decisão pra se sagrar campeão paulista de 1991.

Por isso até hoje tem quem argumente que o São Paulo foi sim rebaixado em 1990.

Por isso até hoje tem quem diga que não há como um time ser rebaixado e campeão da primeira divisão consecutivamente.

E cabem as duas interpretações.

Esse sistema estranho foi mantido pela FPF em 92 e 93 (com a diferença de que, nestes anos, apenas duas equipes do Módulo II foram pra fase final).

Portanto, pelo menos oficialmente, aquela não era a segunda divisão do Campeonato Paulista.

Na letra fria da lei, o Paulistão apenas passou a ser disputado no sistema de grupos, como tantos outros estaduais pelo Brasil.

No entanto, antes da cagada do São Paulo em 90, a intenção da FPF era de que o Módulo II fosse uma espécie de segunda divisão sim, partindo do princípio que inicialmente os clubes nele inseridos não disputariam o título paulista.

Foi o que se tentou e não se pôde implantar, porque o São Paulo cairia.

Entenderam, CAIRIA.

A conclusão do Joaquim Barbosa aqui do blog portanto é a seguinte: com base nos atenuantes apresentados, considera-se válida a avaliação de virada de mesa para evitar o descenso da agremiação São Paulo Futebol Clube à segunda divisão do Campeonato Paulista.

As alterações de regulamento infringiram sua integridade e não poderiam ter sido feitas.

Não poderiam, mas foram.

O que seria a nova segundona virou apenas o “grupo B” do Paulistão.

Portanto a agremiação supra citada jamais foi rebaixada de fato à segunda divisão do campeonato.

Sem mais excelência.