Ontem, dia 07 de setembro, no feriado da Independência, 51.537 pessoas viram comigo, in loco, a vitória do Brasil sobre a África do Sul pelo placar mínimo de 1x0, gol de Hulk.
A Seleção jogou muito mal, não mostrou padrão tático, sofreu momentos de sufoco defensivo e decepcionou quem esperava uma goleada. Mas tudo isso você já sabe.
Vamos falar aqui do destaque de fora das quatro linhas.
Estou falando da gloriosa, da incrível, da pentacampeã mundial torcida brasileira. Mais específicamente da torcida paulista.
Já faz algum tempo que futebol aqui em nosso estado não é lazer. O torcedor paulista não sente alegria quando seu time vence, sente alívio. Isso não é segredo pra ninguém.
Somos chatos, rabugentos, coneteiros e exigentes pra diabo. Por isso a Seleção raramente vem pra cá (no que está certíssima). Acontece que agora isso tá ultrapassando o nível "chatisse" e alcançando o nível "burrice" da coisa. E aí temos um problema.
Vamos lá, voltemos ao dia do jogo. Ali por volta das 15h30 já estava dentro do estádio, acomodado em meu lugar. Comentei com uma amiga o quão impressionante eram os aplausos para os aquecimentos de ambas as equipes. Era um caso claro de saudade. O paulista sentia sim um pouquinho de falta da Seleção.
Quando faltavam pouco mais de dez minutos para o início do jogo, ouvia-se o glorioso "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". Uma ola gigantesca deu cinco voltas no anel superior do Morumbi. Começava a ficar exagerado. Claramente aquelas pessoas festejavam o evento, e não o time. Primeiro erro.
Encerradas as festividades começou a partida. E a paulistada lembrou o que estava assistindo. "A seleção que eu tenho que odiar". Boa parte dos presentes não foram até o quase inacessível Morumbi acompanhar um jogo do Brasil, mas sim constatar o quanto estão "certos" em achar tudo ali uma porcaria. É sempre mais fácil para os medíocres apontar erros do que soluções. Segundo erro.
E com a torcida propensa, todo erro é crime. E nos primeiros minutos já apareceram as primeiras vaias. Tudo por causa da troca de passes na defesa enquanto a África se trancava lá atrás. Após a primeira (e única) oportunidade que chegou a Leandro Damião não ter se concluído em gol, o estádio passou a clamar por Luís Fabiano. A grande parte são-paulina presente esqueceu que não era o "Tricolor Soberano" em campo, falou besteira e ainda de quebra desestabilizou o centroavante que estava representando a todos nós. Terceiro erro.
O time percebeu com o tempo que não poderia contar com o apoio das arquibancadas e passou a tentar "a grande jogada", o lance espetacular que traria de volta a torcida pro seu lado. Não rolou. E aos 23 minutos as vaias já eram praticamente generalizadas. Ninguém mais tinha saco pra ver aquele jogo de ataque contra defesa.
Em outros lugares do mundo, quando uma seleção domina a partida e vai dando de cara com um paredão defensivo consecutivas vezes, a torcida inflama junto, vê o gol amadurecer, e empurra a equipe pra seguir tentando. Aqui não.
"Mas o jogo tava uma porcaria. Será que você não viu? Como apoiar aquilo?"
Uau! Parabéns torcedor de goleadas, é de gente como você que não vamos precisar em 2014.
É uma equipe em formação, gênio. Vai jogar mal vários jogos ainda até se acertar. Contra equipes retrancadas vai sofrer sempre pela falta de entrosamento.
As grandes seleções européias não passam tanto por isso porque boa parte dos jogadores atuam juntos a temporada inteira. A base da Itália é a Juventus, a da Alemanha é o Bayern, a da Espanha é o Barcelona, e assim por diante. Seleção não tem tempo pra treinos, então essa é a melhor alternativa possível.
No nosso caso não dá. A Seleção Brasileira é um super-catado de jogdores pelo mundo. Tenta-se facilitar as coisas com a base do time campeão sul-americano e mundial sub-20, mas as convocações nunca trazem três atletas que jogam num mesmo time.
Mas, voltando ao jogo, no segundo tempo as vaias se intensificaram. Principalmente na saída de Lucas pra entrada de Jonas (a torcida tricolor ataca novamente). Ah, claro, também se destacaram as "homenagens" ao Neymar.
Não entendo boa parte dos torcedores do Brasil. O moleque é a única chance de algo diferente no jogo, e mesmo assim é massacrado. Fosse natural de qualquer outro país, qualquer outro, estaria sendo protegido e preparado pra Copa.
"Ah mas ele é um cai-cai, firuleiro, medroso, etc, etc, etc..."
Beleza, se essa é realmente sua opinião, vou lhe fazer uma pergunta. Fosse você o glorioso treinador de nosso escrete, convocaria ou não convocaria Neymar?
Se respondeu que sim, você é um hipócrita. O comandante de uma seleção não pode convocar jogadores firuleiros e medrosos.
Se respondeu que não, você é um burro. Não temos jogadores pra suprir essa ausência e suas chances de vitórias seriam reduzidas consideravelmente.
O torcedor da Seleção tem que, de uma vez por todas, decidir o que quer da vida (e principalmente o que quer ganhar na vida).
Afinal, sua fome é de títulos ou de ter "a razão" nas críticas?
Também estou achando o trabalho de Mano Menezes bem abaixo do que se pode considerar bom. Mas até que ponto adianta descer a marreta em tudo, se sabemos que foi-se o tempo em que pressão de torcida derrubava técnico da Seleção?
Sem contar que tenho minhas dúvidas do quanto Muricys, Tites e Luxembrugos poderiam melhorar as coisas.
Contudo, ainda dá tempo de formar uma equipe competitiva. Ainda dá tempo dessa equipe se tornar competitiva. Tudo depende de como o trabalho será tocado daqui pra frente.
Mas a dica que quero deixar hoje é pra você que QUER criticar. Critique certo meu caro.
Argumente sobre a limitação técnica do Rômulo. Explique o fato do seu treinador levar três laterais esquerdos e só um direito pro jogo. Fale sobre a facilidade que o Tshabalala teve sempre que partiu pra cima de nossa defesa.
Debata temas construtivos, meu pequeno comentarista.
Ou então largue a Seleção de vez e se concentre no seu time apenas. É mais honesto consigo mesmo e não expõe esse patriotismo de ocasião vergonhoso.
Enfim, adote uma postura inteligente.
Chamar o Neymar de pipoqueiro ou dizer "adeus" pro Mano não vai trazer a solução pra ninguém.