terça-feira, 22 de maio de 2012

Mesmo que chiem, o Chelsea é Champions!

Às vezes, o futebol escreve torto por linhas tortas (sim, isso mesmo).

No início do segundo semestre de 2011, era grande a expectativa na Europa sobre a Champions 2011-12.

Todos queriam saber se o futebol do Barcelona continuaria mágico. E se sim, se alguém conseguria superá-lo. Todos queriam ver um Real Madrid reforçado e entrosado fazendo frente aos rivais da Catalunha.

Também era grande o interesse sobre o mais novo rico da Inglaterra, o Manchester City, que logo de cara caiu no grupo mais interessante da primeira fase, junto ao Bayern de Munique, o Napoli e o Villarreal. Muitos olhares se voltavam também ao grupo F, com o sempre competitivo Olympique Marseille, o agora bi-campeão alemão Borussia Dortmund e o perigoso Arsenal.

O grupo E também era interessante, tinhamos o Milan no mesmo grupo do Barça. O Real junto ao seu por vezes carrasco Lyon, e com o Ajax a tira colo...

Enfim, esperava mais do que um grande campeão,  esperava-se um ode ao futebol da mais alta qualidade, atraente, plástico, que haveria de sair vencedor ao fim do cortejo.

Não importava se a taça continuaria na Catalunha ou não. Todos na Europa tinham a certeza de que o campeão seria alguém que jogaria "o fino da bola". Muitas grandes equipes se planejaram, se reforçaram. Não tinha como o futebol bonito dar errado nesta edição.

Pois é, deu errado. E deu errado graças a uma equipe que também fez tudo errado, em busca de algo que não havia conseguido em nenhuma das vezes em que fez tudo certo.

Com vocês, o Chelsea FC, campeão europeu de 2011-12.

Bom, os Blues fizeram uma temporada sofrível entre 2010-11. Aliás mais uma pra sequência pós-Mourinho. Mas eles não ficaram parados e encontraram a solução. Contrataram o super-mega-hiper-master campeão das coisas que o Porto disputa, o jovem André Villas-Boas. Que pode até virar um puta técnico no futuro, não vou fritar o cara.

Mas o fato é que no Chelsea a coisa não andou. O meninão tentou implantar um estilo de jogo contrário aos favoritos pelos "cabeças" do time. E aí já sabe (né Felipão?), é frigideira quente e azeite da mais alta qualidade. A campanha na fase de grupos foi decepcionante para um "cabeça-de-chave" (obs. do blog: não existe esse negócio de cabeça-de-chave em cameponatos de futebol, é apenas um termo que faz referência ao time mais forte de um grupo). Venceu todas em casa e nenhuma fora. Mesmo assim consegui ser líder de um grupo com o interessante Bayer Leverkusen e o equilibrado time do Valencia. Os espanhóis então, ficaram pelo caminho.

A descrença sobre o Chelsea no entanto era total, inclusive por parte deste que vos fala. Ainda mais quando o sorteio o pôs a frente da sensação italiana Napoli. No jogo de ida na Itália, a confirmação. 3x1 Napoli fora o baile. O resultado, aliado a mais alguns jogos ruins na Premier League, culminou na demissão do prodígio português dois dias antes do jogo de volta em Stamford Bridge.

Não houve tempo para se buscar um novo treinador (ou não se acreditava que alguém ainda seria capaz de classificar o time, então deixaram pra depois). Assumiu então interinamente o suiço-italiano Roberto Di Matteo. Curiosamente o grupo de jogadores ressurgiu, jogaram sua melhor partida da temporada até aquele momento, devolveram o 3x1 e marcaram o gol da classificação na prorrogação.

A fase ficou boa de repente. Jogadores empenhados, partidas consistentes, até mesmo uma leve reação no Inglês foi possível. As coisas ficaram ainda mais promissoras quando o sorteio das quartas definiu que o Chelsea enfrentaria o coadjuvante Benfica por uma vaga nas semis. Sem dar chance ao azar, no embalo do "grupo fechado" o Chelsea ganhou lá e aqui, pra que não ficassem dúvidas.

Mas foi aí que a coisa apertou. Se pras quartas o sorteio foi amigo, nas semis ele foi mais que maligno. Sim, o pior aconteceu. O ressucitado Chelsea teria de enfrentar o temido Barcelona. Qualquer um que disser que apostava sua casa no Chelsea é um tremendo mentiroso. O palpite nunca foi tão óbvio numa vitória catalã. O Chelsea sabia que só algo diferente de tudo que se entende por futebol seria capaz de ao menos atrapalhar os "Globetrotters Azuis-Grená". Nascia então o inédito esquema 9-0-1. O Bonde Azul estacionou na frente da área de Petr Cech e por lá nada passou em Londres. E melhor, um contra-ataque puxado por um dos 9 achou o 1 dentro da área. Ele, que não podia deixar passar uma chance dessas, não perdoou. 1x0 e vantagem do empate no Camp Nou.

Daí veio o outro problema. E pra empatar no Camp Nou, como faz? Algo ainda mais inovador do que o vitorioso 9-0-1 do Stamford Bridge, o 9-1-0. Onze caras o tempo todo atrás da linha da bola. Que mesmo assim tomaram 2x0 no primeiro tempo de jogo e tiveram seu capitão expulso. É amigão, o Barça é foda. Olha aí, eliminou mais um e... Opa, vejam só. Esse que vem correndo é o rapaz que puxou o contra-ataque em Londres. Aquele que encontrou o 1 na área. Agora, ele decidiu entrar na área. E tocar de cobertura. Com a frieza de um iceberg, com o time sendo eliminado, com um jogador a menos, num Camp Nou com quase 100.000 pessoas, contra o melhor time do mundo, o cara tem uma chance rara e decide tocar de cobertura. Louco? Louco é pouco. Ramirem de tão tão louco teve um momento de gênio. Fez um golaço e mandou um Barça temporariamente eliminado pros vestiários. No segundo tempo, o desespero mudou de lado. O time famoso por tocar a bola independentemente do que aconteça, começou a dar lançamentos perdidos, com cara de assustado. Quando consegue um pênalti e o melhor jogador do mundo se mostra humano e perde, o descontrole toma conta de todos. A bola queimava nos pés, escapava dos domínios. No fim, uma última facada de Fernando Torres abateu de vez o touro espanhol. E pra empatar no Camp Nou, como faz? Assim, é assim que se faz.

Bom, agora beleza. Batemos o melhor do mundo então agora não tem pra ninguém certo. Não há outro desafio que se aproxime disso. A não ser que enfrentemos a maior equipe alemã com um de seus melhores elencos de todos os tempos e a rara oportunidade de vencer a liga em casa. Ih rapaz. Pois é, Bayern e Chelsea fizeram a final dos corações dilacerados (já que os alemães eliminaram também de modo heróico o Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu). Na Allianz Arena, o favoritismo era novamente do adversário do Chelsea. Que não ligou nem um pouco pra isso e botou em campo o 9-0-1 outra vez, sem medo de ser feliz.

Mas veio o gol de Müller aos 38 do segundo tempo, que fez o torcedor bávaro gritar é campeão antes da hora. Grito que durou até os 43 minutos, quando o 1, Didier Drogba empatou de cabeça. Na prorrogação, o 1 resolveu ajudar na defesa, e cometeu pênalti em Ríbery (que teve de sair, contundido). Na batida, Robben perdeu. Defesa do 1, o camisa 1 do Chelsea Petr Cech. Que pegaria mais um na disputa de pênaltis, assim como Neuer (que pegou um e marcou um). Na bola na trave de Schweinsteiger, o fim do sonho alemão de vencer a Liga em seus domínios. Para o Chelsea, a realização de um sonho desacreditado.

Londres vence sua primeira Champions League.

No ano em que sediará as Olimpíadas.

E o Chelsea chegou aonde (Roman Abramovich) queria.

Di (Matteo) onde menos esperava.

Coisas dos Deuses Escritores da Bola.