domingo, 1 de janeiro de 2012

O grande livro de histórias chamado Futebol

Torcedor é um bicho engraçado.

Sofre, reclama, xinga, comemora, elogia, idolatra, se conforta, se decepciona, chora, promete a si mesmo parar de ir aos jogos e dar fim a essa tortura...

...e dias depois tá lá, sofrendo de novo.

Por pessoas quem nem sabem que ele existe.
E acha legal. É motivo de piada com os amigos, “investe” seu suado dinheirinho, pega fila, toma chuva...

...e fica ansioso pra repetir tudo de novo no fim de semana.

Isso em qualquer esporte. Em alguns menos, em outros mais.

Mas todos contribuindo com sua parte para o enlouquecimento de seus fiéis seguidores.

E no meio disso tudo, temos o futebol, que não se enquadra muito bem nessa categoria de “esporte”.
  
Normalmente, quem é fanático exclusivamente por futebol não gosta de esporte, gosta de futebol.

Mesmo com seus agravantes de injustiças, armações, politicagens, exemplos claros de deterioração da saúde e tudo mais que vai contra todos os conceitos básicos de esporte.

Mesmo assim ele alimenta seu amor por algo que não o traz benefício algum (nada mesmo, desde retornos materiais até bons exemplos de conduta a serem seguidos).

Por quê?!

Porque sim, oras.

No futebol o cara não precisa atingir meta nenhuma, obedecer a protocolos ou mesmo ser político visando “o bom convívio em sociedade”.

Fala palavrão, tira o sapato, camisa, fala absurdos pra quem nem conhece, esquece os problemas, as dívidas, descarrega toda a raiva do chefe no centroavante caneludo...

E presencia a construção de uma história, sempre nova.

Às vezes ele dá a incrível sorte de estar lá no dia de uma grande história, daquelas que ficam pra sempre na cabeça de todo mundo e vão sendo passadas de geração em geração.

Mas, mesmo quando não, a expectativa sempre está presente.

O torcedor de futebol nunca vai pro estádio sabendo o que vai encontrar.

Pode muitas vezes achar que sabe, mas, o que sabe realmente, é que pode sempre ser surpreendido. E até torce para ser (positivamente, claro).

Tá certo, você pode criticar o fato de muitas vezes o vitorioso ser alguém que não “mereceu” de fato o triunfo.

Mas com certeza também comemoraria feito um louco uma vitória do seu time por 1x0, com gol chorado, contra um adversário muito superior.

Contraditórios e anti-éticos?

Não, apaixonados mesmo.

E a falta de lógica de sua maior paixão os faz sem lógica também.

No futebol, não importa pra quem se torça, pode-se sempre perder de modo vexatório ou vencer de modo heróico e glorioso.

Só no futebol.

O torcedor da Seleção Indiana de Vôlei sabe o que vai acontecer se ela se classificar para uma Olimpíada.

O do Minnesota Timberwolves sabe o que o aguarda na temporada da NBA.

E o mesmo serve para o torcedor da Seleção Camaronesa de Handebol.

No futebol não.

A Seleção da Nova Zelândia pode ficar invicta numa Copa do Mundo.

O São Caetano pode ser o segundo maior da América.

E o Once Caldas de Manizales, o primeiro.

Um pequeno país da América Central como Honduras pode vencer a maior potência das Américas.

Assim como a Seleção da Grécia pode bater em todos os grandes europeus e se tornar a maior da Europa (por pouco tempo, mas pode).

E eu não estou depreciando nenhum esporte perante o futebol.

Cada um tem suas motivações particulares que não devem ser contestadas.

O que eu destaco é a capacidade que o futebol tem para desconstruir conceitos, teorias e perspectivas.

Pois nele existe espaço pra fantasia se tornar real.

E, em parte, é isso o que move o “esporte” mais popular do planeta.

Todo torcedor pode ser o iluminado da vez.

Acompanho esportes desde 1995.

E vi coisas inacreditáveis desde então.

Pra falar só em jogos de futebol então, assisti a verdadeiros milagres.


Desde a final do Carioca de 2001 no Maracanã, até a semifinal da Copa do Brasil de 99 no Palestra Itália.



Entre tantos outros que não caberiam neste blog (pelo menos não neste post).

Porém tudo muito bem guardado na minha memória. Vivo, como se tivesse acontecido agora pouco.

E não sou o único.

Esse “Paraíso do Imponderável” atrai a todos. Pobre e rico. Gordo e Magro. Branco e Negro. Católico e Muçulmano.

Todos juntos, em uma só voz, empenhados em empurrar seu time de coração e homenagear a progenitora do senhor do apito.

Porque no jogo, não somos João, Marcelo, Rafael, Daniel ou Tiago.

Não existem Jorges, Felipes, Pedros, Leandros ou Danilos.

Somos Atlético, Flamengo, Palmeiras, Botafogo, Grêmio ou Fluminense.

Corinthians, Cruzeiro, São Paulo, Internacional, Santos ou Vasco.

Entre outros tantos nomes possíveis. Mas que são divididos entre milhares.

O torcedor e seu time se tornando então uma coisa só.

Sempre com o objetivo de fazer história.

Uma bela história para o grande livro chamado Futebol.