Mas o Super Bowl mereceu a exceção.
E não pelo futebol americano em si ou apenas pelo jogo de domingo entre New York Giants e New England Patriots (que foi sensacional, diga-se de passagem).
Mas por tudo que engloba esse dia.
O Super Bowl é mais que uma final de campeonato, é uma homenagem ao esporte.
É a prova de que podemos sim, esperar (e cobrar) sempre mais do show que nos é apresentado.
Mais do que um dia de torcer, é um dia de celebrar o esporte.
Poderíamos ficar aqui um bom tempo falando sobre o grande jogo que deu o título aos Giants, o show do intervalo, a beleza do evento como um todo...
E é isso mesmo que vamos fazer.
Senhoras e senhores, com vocês, o Super Bowl XLVI.
Bom, vamos começar pelo local, muito bem escolhido aliás.
Indianápolis recebeu o Super Bowl no estádio mais novo da cidade.
E 70.000 pessoas lotaram o Lucas Oil (que nome é Lucas Oil?) para acompanhar in loco a grande festa do esporte norte americano.
Merece registro o fato da expressiva maioria estar torcendo pelo Giants (devido à rivalidade entre o time da casa, o Indianápolis Colts, e o New England Patriots).
E veio a abertura com América the Beautiful, hino com Kelly Clarkson, tudo muito bom, tudo muito bem, mas o que o povo queria era jogo.
E o jogo começou.
Pelo menos pro New York Giants.
Sem sucesso nas tentativas de brecar os avanços de campanha dos Giants, os Patriots viram o adversário abrir 9x0 sem tanta dificuldade.
Eli Manning distribuía todo seu repertório de lançamentos teleguiados e os Giants iam chegando, de first-down em first-down, até a end zone.
Também não podemos deixar de destacar Victor Cruz, autor do primeiro touchdown (com direito a salsa na end zone) e principal receptor de Manning na partida.
E também lembrar o erro infantil da grande estrela do futebol americano Tom Brady, que se livrou de uma bola lançando em um espaço vazio e concedendo dois pontos aos Giants.
E com ele o pior pesadelo dos Giants.
O multicampeão, multimilionário, multiconsagrado, multimarido da Gisele Bündchen (tá pegando mal o menino), Tom Brady decidiu jogar.
Com a força da defesa do Patriots e o despertar de Brady, o New England foi pra cima, dominou o período e foi para o intervalo com uma empolgante virada, 10x9.
Pra esse ano Madonna foi escolhida.
Não sou fã de Madonna. Aliás, poucas são as músicas dela que me agradam.
Mas o show foi legal. Bem ritmado e, principalmente, bem produzido.
Vejo a montagem de um palco tão espetacular em poucos minutos como um show mais impressionante do que a apresentação musical propriamente dita.
E é durante esse momento do evento que vemos o quanto o produto esporte pode ser valorizado.
É nessa hora que ficamos indignados com a “produção” que é feita por aqui para uma final de Libertadores, por exemplo.
No Super Bowl as pessoas realizam algo mágico.
Mas no show do intervalo percebe-se que, acima de tudo, estão celebrando, juntos, a alegria que o esporte proporciona.
Estão festejando a oportunidade de participarem de um momento tão bonito e histórico.
Além da honra de homenagear, em seu país, aquilo que mais gostam e pelo que são verdadeiros apaixonados.
O Super Bowl mostra a força que tem essa combinação entre o esporte e um povo que deseja de verdade fazer dele algo grandioso.
Contudo, o intervalo e toda sua magia precisavam acabar.
Patriots e Giants ainda tinham um assunto a resolver.
E na volta para o terceiro período, os Patriots pareciam determinados a encerrar o assunto.
Tom Brady voltou jogando seu melhor futebol, e o New England chegou ao seu segundo touchdown.
Os Giants por sua vez mostravam muito nervosismo. Em parte pelo placar adverso, em parte pelos jogadores importantes que iam se machucando um a um.
Para o quarto período a tragédia parecia anunciada em Nova York.
Até o momento em que o imponderável deu as caras.
Tom Brady, o jogador mais badalado do mundo, com 34 anos nas costas e três títulos no currículo, no melhor estilo LeBron James, negou fogo no último período.
Voltou a cometer os erros do primeiro período e os Patriots não conseguiam sucesso em uma campanha sequer.
Isso tudo ao mesmo tempo em que Eli Manning ressurgia das cinzas com suas bolas teleguiadas para Victor Cruz.
E a diferença que era de sete pontos caiu pra cinco.
E de cinco caiu pra dois.
E após mais uma campanha mal sucedida dos Patriots, os Giants tinham a chance de, faltando três minutos para o fim do jogo, necessitar apenas de um field goal para chegar ao título.
Mas não do modo tradicional.
Levou dando show.
Com direito a um espetacular lançamento para Victor Cruz que passou entre os dedos do adversário, e outro simplesmente absurdo, de mais de 40 jardas com perfeição em cima da linha lateral.
Com tantos lançamentos geniais, os Giants estavam a menos de dez jardas da end zone faltando 57 segundos para o fim da partida.
Os Patriots decidiram abrir espaço para o touchdown dos Giants logo de uma vez e assim receber a bola com tempo suficiente para tentar o touchdown do título.
Cabia aos Gians então não se deixarem levar pela empolgação, gastar o tempo, e marcar o field goal (ou touchdown, se fosse o caso) nos últimos segundos, quando já não houvesse mais chance de contra-ataque do New England.
Entretanto, a bola chegou às mãos de Ahmad Bradhsaw, e o running back de Nova York não resistiu à tentação de marcar o possível touchdown do título.
Caiu na end zone, marcou o touchdown e devolveu a bola aos Patriots com 52 segundos para o fim.
Faltou cabeça fria e maturidade ao jogador natural do estado da Virginia.
E a partir daí começou o último capítulo do drama dos Patriots.
Tom Brady tinha 52 segundos para desenvolver uma campanha de 90 jardas até o touchdown.
Depois dos erros bizarros cometidos pela estrela durante o jogo, a pressão era enorme para que ele agora desse um jeito de dar o título aos Patriots.
E ele até fez sua parte.
Mas em três lançamentos perfeitos, de mais de 25 jardas, seus companheiros não conseguiram segurar a bola.
Na última tentativa, bola direta pra end zone.
Um monte de gente se trombando, ninguém conseguiu segurar a bola, ela caiu no chão de novo, e o New York Giants se sagrou pela quarta vez campeão do Super Bowl.
Consagração de Eli Manning. Questionamentos para Tom Brady.
Festa do título e encerramento do dia mais importante do esporte nos Estados Unidos.
Tudo perfeito, tudo como em um sonho.
Voltemos então a nossa realidade, até que possamos sonhar novamente, no Super Bowl XLVII.
Não sei se estou pronto para voltar minhas atenções para o Paulistão agora.
Mas vou tentar.
Que Deus me ajude.